João Gostoso, um ninguém (05.03.2021) - Inspirado no poema de Manoel Bandeira

Foi-se o tempo em que as pessoas da comunidade babilônica do morro perguntavam “Quem é?”, “De onde ele veio?”, “Ele mora por aqui?” e começaram a apenas aceitar a presença do misterioso João Gostoso por lá. Não se sabia também o motivo de todos chamarem-no assim, mas ninguém tampouco o incomodava.

Só sabiam onde ele morava as pessoas que já o tinham visto entrando no barraco da rua que não tem nome, e nem o barraco dele tem número (zero pontos de referência). E só sabiam onde ele trabalhava quem já o tinha visto carregando coisas na feira, sem, contudo, ser mesmo um dos feirantes da região.

Mas dizem que houve uma noite, há muito perdida no tempo, em que ele foi visto no bar Vinte de Novembro para beber. Talvez para espairecer de um dia estressante no trabalho? Se é que realmente tinha um... Disseram que os efeitos da bebida foram aflorando nele, tanto que começou a cantar. De início meio tímido, mas depois com toda a plenitude de seus pulmões. E mais depois ainda começou até a dançar, desprovido da amarração da sobriedade.

A última vez em que foi visto, estava debruçado nas grades da Lagoa Rodrigo de Freitas (um lugar não muito aconselhável para se estar àquela hora) e depois só ficamos sabendo que ele havia se afogado ali... Tendo se atirado ou sendo atirado, ninguém nunca chegou a saber. Da mesma forma que ninguém nunca procurou saber mais...

Paulia B. Sousa

Paulia Barreto
Enviado por Paulia Barreto em 08/03/2021
Código do texto: T7201728
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