Intolerância

INTOLERÂNCIA
Miguel Carqueija

Aquele moço passeava na rua com seu cachorro, que a certa altura aproximou-se de uma árvore para urinar. Foi o bastante para que uma senhora, da janela de um apartamento, começasse a xingá-lo, esbravejando que ele estava deixando o animal sujar na calçada, o que aliás não era verdade. Ele sempre recolhia as fezes. Sem ligar para a descompostura o moço prosseguiu seu caminho com seu bicho de estimação.
No dia seguinte aquele moço, ao saltar do ônibus, viu um velho que também saltara, curvado e fraco, mas que trazia duas sacolas pesadas de compras, e ofereceu-se para ajudar. O idoso morava ali perto, e o rapaz ajudou-o até a portaria. E era o mesmo prédio da véspera.
Quanto o ancião contou à filha a ajuda que tivera, esta elogiou muito aquele moço tão prestativo, que ela não chegara a ver. E ela nunca ficou sabendo que se tratava da mesma pessoa que na véspera ela xingara aos brados, até de FDP.

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2020.



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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 13/12/2020
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