MÁRCIA (mini conto)
Rua Argonauta Rabelo 107, um edifício mau zelado e mal falado.
Cada porta uma delas em pé feito sentinelas aguardando ser a preferida de alguém entre os visitantes.
Sorte para o sustento diário, azar para a dignidade humana já tão corrompida pela miséria estampada em suas faces, tal qual nas roupas quase sumidas no propósito de se tornarem atração.
Cada rotineira rejeição surge em Márcia a expectativa de que o próximo não porá reparo na sua decadente aparência e lhe dará o minguado valor que sua condição lhe permite cobrar.
Márcia é o seu nome nas ruas, longe de sua distante casa, do seu marido alcoólatra e seus dois filhos menores, acostumados com a ausência da mãe.
Amanhece na casa de Márcia, pronta para sair ela olha seus filhos ainda dormindo, olha no espelho e decide reduzir o seu valor.