Cheiro de lembranças
Chegamos no hotel animados, era uma sexta-feira de fevereiro e fazia calor em Ayia Napa, no Chipre. Jimmy Emre e eu passaríamos ali o fim de semana, viajamos de Zurique para Nicósia para termos alguns dias de sol e calor, na Áustria onde morávamos, o inverno ainda estava rigoroso e não tinha previsão da temperatura aumentar. Fizemos o check-in e fomos para o quarto. Bom, viagem de estudantes, pegamos um quarto simples com 3 camas de solteiro, não iríamos fica muito tempo no quarto, pois queríamos aproveitar o bom tempo e as águas do mediterrâneo.
Ao anoitecer decidimos ir para o centro, conhecer a cidade e comer alguma coisa por lá. Fomos andando, porque além de economizarmos para os próximos dias, queríamos conhecer a cidade mais a fundo. A paisagem era bonita, me recordo que ventava muito, mas o que me chamou a atenção, foi ver os motoristas dos carros no lado direito, assumo que foi bem estranho e até hoje não sei o motivo pelo qual no Chipre os carros são como na Inglaterra. Ainda durante o caminho, comemos um prato chamado afelia, que estava muito gostoso e daí então começamos com o “aquecimento” da balada, tomamos alguns shots, cervejas e drinks. Pois bem, chegando na discoteca, Jimmy como sempre o mais extrovertido (depois de beber, é claro) foi conversando e se apresentando para toda a balada. Emre e eu procurávamos Jimmy e lá estava ele sempre com uma pessoa diferente bebendo e conversando, ou ao menos tentando, pois muitos no Chipre não falavam Inglês. Emre e eu percebendo que Jimmy estava ficando mais pra lá do que pra cá, decidimos pegá-lo e ir embora. Claro que nós também tínhamos bebido, mas Jimmy estava muito mais “alegre” do que nós. Ao sairmos, 2 garotos que conversaram com Jimmy dentro da balada, nos ofereceram uma carona, pedindo apenas um valor simbólico de 10 Euros. No momento não achei caro, até concordei, mas a malícia ou minha impureza me despertou rapidamente, chamei Emre de canto e falei que seria mais seguro pegarmos um táxi, porque não conhecíamos ninguém no país e eles sabiam que nós éramos estrangeiros. Emre falou para eu ficar tranquilo que não estávamos no Brasil e que a viagem seria muito mais barata, por fim, nem perguntamos o preço do táxi. Ao entrarmos no carro, Jimmy apagou, estávamos no banco traseiro eu numa ponta, Emre na outra e Jimmy no meio. Os dois garotos só conversavam entre si no próprio idioma, e por sinal pareciam que estavam tendo uma conversa ríspida. A viagem continua e o caminho vai ficando mais escuro, ruas desertas e sem postes, apenas o farol do carro iluminava por onde passávamos. Jimmy com as curvas que o carro fazia não se aguenta, e repentinamente vomita! Emre pegou o primeiro um casaco o vestiu sobre Jimmy, pois ele vomitou em si mesmo e os garotos não tinham percebido. Jimmy ainda não satisfeito com sua façanha, vomita pela segunda vez, e agora sim, os garotos viram, pararam o carro e desceram furiosos, gritando e esbravejando. Não entendíamos nada do que eles falavam, mas percebíamos como estavam nervosos. Tentávamos pedir desculpas em inglês, porém eles já não nos escutavam mais e só xingavam-nos (pelo menos era o que parecia). Jimmy ficará jogado ao chão enquanto Emre e eu tentávamos acalmar os ânimos. Depois de algum tempo e de muita gritaria dos rapazes, alguns moradores começaram a sair de suas casas, os garotos entraram no carro e foram embora. Emre e eu estávamos assustados, pois não sabíamos onde estávamos naquele exato momento e como faríamos para chegar ao hotel, por sorte, um dos moradores que saiu para a rua, falava inglês, nos perguntou o que estava acontecendo e depois de esclarecermos ele chamou um táxi para nós. Sabíamos que não estávamos muito longe da balada, quando o táxi chegou ele primeiro se negou a levar o Jimmy, que estava com sua roupa toda vomitada, mas ao explicarmos toda a situação, mandou entrarmos no carro. Durante o trajeto até comecei a entender o lado dos garotos, porque Jimmy que estava vomitado cheirava muito mal, também com uma mistura de drinks e uma Afelia (nome da comida chipriota que comemos) no estômago, o resultado não poderia ser diferente.
Chegando no hotel, a corrida do táxi deu 7 Euros, olhei para o Emre respirei fundo e resolvi ficar quieto. Pensei que seria melhor em falar com ele quando estivessemos todos “normais” .Chegando no quarto tivemos que dar um banho no Jimmy, o cheiro do vômito “perfumava” o hotel. Durante o banho, Jimmy começou a se despertar e espantosamente já pedia por outra dose de Whisky. Mas somente depois do banho foi que percebi que Emre estava triste e cabisbaixo, foi só então que caiu minha ficha. O casaco que Jimmy estava usando quando vomitou pela segunda vez, era o de Emre. Foi um fim de semana agitado nas águas do mediterrâneo, renderam muitas histórias e risadas, além é claro dos arranhões que Jimmy sofreu ao sair do carro, dos 17 euros a menos que ficamos para os dias subsequentes da viagem e do insuportável cheiro de vômito no quarto, porque Emre se recusava a jogar seu casaco fora.