Um bom ladrão
UM BOM LADRAO.
Fui roubado! Não à mão armada, mas na mão grande e na cara lavada. Bem que percebi o sujeito me olhando meio de esguelha, disfarçando. Mas nem me toquei que o bicho estava na maldade comigo. Marquei toca, literalmente! Deixei a bolsa carregada de livros, à solta enquanto esperava o circular. E num momento de descuido...zap! O maldito me surrupiou a bolsa. Nem deu tempo de dizer a ele que eu era escritor; de vender o almoço pra comprar a janta. O larápio já corria longe com cebo nas canelas virando uma das esquinas; e só me restou, ver o gatuno sumir em disparada com a bolsa aos solavancos por entre carros e pessoas. Voltei desolado, pensando com meus botões: bem que o infeliz poderia me levar o celular, a carteira e até meu chapéu, que eu sairia agradecido. Mas, meus livros? Só de bronca, resolvi enfrentar quase doze quilômetros na sola. Dias depois meu telefone toca, era da delegacia. Me pediram para comparecer. Nao tinha a menor ideia do que seria, mas fui. E para minha surpresa dei de cara com o vadio e minha bolsa com os livros e logo pensei: o ratazana diante da decepção, por medo foi se entregar!? Fui indagado pelo Delegado, se me lembrava do meliante e se gostaria de seguir com todas formalidades criminais para incriminar o infeliz. Parei, olhei, pensei e acabei dizendo não! Nada faria, só queria reaver a bolsa com os livros. Saímos pela mesma porta. Na calçada, antes de tomarmos direçoes opostas, o prego me revelou com um sorriso que havia lido meu livro. Retribui o sorriso e com ar de curiosidade perguntei se havia gostado de algum continho. O treiteiro me confessou ter se identificado específicamente com um. Sorri novamente, e eu quis saber qual. Meio sem jeito, o fuleiro foi logo dizendo: -"Um Bom Ladrão". Caímos na gargalhada seguindo caminhos contrários; e então pensei: ganhei o dia, saindo com a bolsa, os livros e um amigo ladrão.
DE: RODRIGUES PAZ
(Autor)