Vícios

Rafael cochilava no sofá quando ouviu seus vizinhos baterem a porta, era sábado à noite em um condomínio de classe média alta no Rio de Janeiro.

Rafael tinha 26 anos e fora adotado aos 15 anos por uma família de classe média alta, com isso teve a oportunidade de cursar o ensino médio em escola particular. Não se sentia muito confortável no colégio pois todos sabiam que ele era adotado e sentia uma certa diferenciação em seu tratamento, desde colegas de classe até professores.

Ele prontamente se levantou e foi direto ao banheiro para tomar um banho gelado, sabia que havia chegado o momento. Durante o banho pensava sobre o todo o plano, e como o executará para que nada saísse errado, porém não estava nervoso, já tinha uma certa experiência na área. Desde que tinha sido adotado Rafael cometia pequenos furtos na vizinhança, não por precisar do dinheiro ou manter algum tipo de vício em drogas, mas sim pelo simples fato da adrenalina que sentia quando estava em ação. Se sentia vivo e sabia que não poderia errar, sua marca principal, não deixar rastros.

Já tinha decidido que entraria pela porta da frente no apartamento vizinho, a sacada era muito arriscada tendo em vista que eles estavam no 8° andar. A porta do vizinho Paulo que morava com sua namorada Renata, tinha uma câmera instalada, isso não seria um problema para Rafael pois ele se formou em ciências da computação na UFMG e hackear uma câmera de segurança não era nada difícil.

Rafael pesquisava “bem” suas atuais e próximas vítimas, tinha foco em pessoas bem sucedidas que trabalham em multinacionais exploradoras de recursos naturais sem o mínimo de preocupação com o meio ambiente muito menos com as pessoas ao redor. Não que essas pessoas merecessem ter algum objeto furtado mas sentia que conseguia retribuir/provocar o mesmo sentimento de fragilidade, vulnerabilidade que as empresas causavam nas vítimas, ou talvez isso fosse apenas uma mera desculpa para sua diversão, uma maquiagem para suas ações.

Paulo seu vizinho era engenheiro químico de uma grande indústria petroquímica conhecida no Brasil e no exterior. A empresa estava sendo acusada de derramamento de petróleo no oceano, simplesmente por não respeitarem o limite máximo de perfuração, isso deixava Rafael irritado e com mais sede de praticar sua atividade que ele mais sentia prazer.

Rafael com uma mixa abre a porta de Paulo sem dificuldade, ao entrar se depara com um apartamento luxuoso, quadros e esculturas espalhados pela sala, uma estante repleta de livros, muitos ainda com as etiquetas de preço, apenas de enfeite.

Ao andar pelo apartamento encontra o notebook de Paulo com outros documentos da empresa não pensou 2x em levar tudo consigo para conseguir avaliar o teor dos documentos em casa e quem sabe até para uma possível publicação para que os responsáveis pelo prejuízo ambiental paguem pelo que fizeram.

Deu continuidade ao seu plano, pegou o notebook de Paulo e quando ia saindo viu também o notebook da Renata, porém sabia que ela era estagiária em uma ONG e cursava serviços sociais e por isso decidiu não levar seu notebook.

Tomando sempre suas devidas precauções, de luva, máscara e sapatos que não fazem barulho ao andar, Rafael deu uma vasculhada na casa e encontrou um pendrive, dentro de uma gaveta colocado minuciosamente entre as camisas de Paulo, acho um tanto suspeito e decidiu levar consigo.

No dia seguinte, acordou com gritos de Paulo e uma movimentação no corredor do andar, tinha 5 policiais e Paulo exaltado, dizia que eles deveriam achar quem pegou seu notebook e seu pendrive pessoal.

Depois dos policiais saírem, Rafael ainda conseguia ouvir Paulo alterado ligando para seus colegas de trabalho e descrevendo o ocorrido. Rafael por um momento sentiu uma culpa que nunca havia sentido antes, porém ele mesmo sabia que para saciar seu vício de adrenalina tinha que tirar algo de alguém.