Tristeza
Deitada na cama a deixar as gotas salgadas de dor escorregarem pelo seu rosto, finalmente desfrutava do carinho do travesseiro. Uma cena banal, pensou. Uma garota chorona a sofrer pelo jeito que o mundo se regia. Talvez estivesse sendo dramática demais, a pensar que poderia emular a cena de um filme. Mas essa questão boba era esmagada pela sua angústia. Aquilo teria algum motivo? Talvez não, pensou. Aquele choro a acompanhava desde pequena e a perseguia ainda agora quando já era uma adulta, não independente, mas adulta. Parecia-lhe que não tinha amadurecido em nada desde aqueles tempos em que sofria por bobagens que esquecia em menos de dois dias, mas que voltavam logo depois, engatilhados por palavras, gestos de pessoas ou sensações desagradáveis.
Vivia ainda no passado para esquecer que tinha um futuro. Por isso, se agarrava a conversas com garotos e garotas em redes sociais, se alimentando de palavras de saídas da boca de alguém sem peso real para sua vida e depois as regurgitava para outros, como um pássaro a nutrir seus filhotes. Nada se concretizava, nenhum relacionamento, apenas conversas banais. Procurava também justificar que as coisas com que sonhava eram demasiadas difíceis, e não podiam se concretizar também. O buraco causado pelo sentimento de fracasso era o que realmente se alimentava daquelas conversas sem sentido.
O pior não eram os choros justificados, mas sim aqueles que apareciam do nada e por nada para lhe atormentar. Essa tristeza era como uma faca inexorável que lhe atingia em cheio no estômago, a lhe dilacerar as entranhas, causando crises repentinas, que a convidavam para novamente conhecer a palavra “dor”. Cenas ruins, era como chamava as coisas que removiam o véu da cegueira para com seus próprios erros. Algumas eram reais, com peso algum peso, outras banais e sem muito sofrimento, e outras só existiam em sua mente, que procurava por adrenalina como um leão em busca de um gnu. Mas por que as cenas ruins pareciam apenas acompanhar suas crises e não as causar? Não eram tão melancólicas assim, eram até normais. Mas para ela, que não conhecia ainda muito bem o mundo, eram terríveis em um aspecto pequeno, mas significante, sutil. Explicar que ela precisava viver mais, aprender mais, experimentar mais, eram o que recomendavam ao ouvir suas queixas, mas ela ignorava isso, enterrava em si tão fundo quanto pudesse, para logo aproveitar e tentar realmente fazer algo para mudar sua vida, seus pensamentos e emoções, mas tudo o que conseguia era mais combustível para suas lamentações. Ainda deitada, se imaginava velha e obsoleta para o amor. De novo essa palavra, pensou. E então de súbito se levantou e decidiu que estava com fome. Foi para a cozinha preparar um misto quente.