Só
Carlos chegou cansado em casa, jogou o molho de chaves na mesinha da sala e se esticou no sofá. Tirou um cigarro do maço, que estava no bolso, e pôs-se a fumar.
Lucília, uma colega de trabalho, dizia que ele devia ter mais fumaça que oxigênio em seus pulmões. Pra ele isso pouco importava, ele gostava da fumaça.
Continuou fumando.
Sua gata Marieta subiu no sofá e deitou ao seu lado. Tudo que ele precisava estava ali. Adoraria ter uma fotografia daquela cena, para eternizar o momento. Trinta e cinco anos sem saber porque vivia e sem esperar nada do amanhã. Pegou seu celular e colocou sua playlist preferida para tocar, alguns rocks e blues antigos embalavam a cena e, enquanto ouvia, ele fumava e cantarolava algumas músicas, como se estivesse em um show, só que jogado entre as almofadas.
Acabou o cigarro, Marieta desceu do sofá e se colocou a andar pela casa como se desfilasse em uma passarela.
Carlos, por sua vez, tirou os sapatos e os deixou jogados na sala, aumentou o som da playlist do celular, tomou um banho, abriu uma garrafa pequena de cerveja – a última, por sinal, teria que comprar mais no dia seguinte – deitou-se e adormeceu ao som de On the turning away.
Era assim todos os dias. As vozes das músicas faziam com que ele se sentisse menos solitário. Mas, ele permanecia sozinho e jurava de pé junto que amava aquilo, embora até Marieta percebesse como ele, realmente, se sentia.
Se as paredes falassem contariam pra todos que tudo aquilo era costume. Não havia o que fazer, então forçou-se a se acostumar com a situação.
Ah, se as paredes falassem! Talvez não se sentiria tão só.