Pequena Florence (13.06.2017)
Aquele hospital estava um caos.
Ninguém sabia onde estavam seus familiares e eu já estava começando a ficar desesperada para encontrar meu noivo. Sem dúvidas, aquele acidente foi horrendo!
Só me lembro de ver alguns corpos (não sei se mortos ou ainda com vida) jogados no asfalto e, próximo de mim, ele estava caído por cima de um pneu que se soltara de um dos vários carros envolvidos no acidente.
Tentei ir até lá, mas minha visão já embaçada escureceu e só me lembro de já estar em uma das macas sendo empurrada por médicos pelos corredores do hospital. Não tive muitas lesões, só um braço enfaixado e uma faixa de cabelo feita de gazes para o corte em minha cabeça.
Quando recebi permissão para levantar, logo tratei de ir procurar por ele. Ainda bem que não me fizeram usar aquela camisola do hospital (pois seria muito ruim andar por aí com ela).
Porém, nem sequer andei muito e já fiquei cansada e até um pouco tonta; mas o médico me alertara de que isso poderia acontecer, principalmente por causa dos remédios que estavam sendo injetados em mim.
Sentei-me um instante para recuperar o fôlego e vi uma criança perto de uma banquinha de flores que havia do lado de fora do hospital. Me recuperei e fui lá para saber o que ela estava fazendo ali e sozinha.
- Bom dia, moça! – Ela disse, antes mesmo de eu falar-lhe algo. – Você tá dodói? – Perguntou ao notar meus curativos.
- Estou sim. E você está aqui sozinha?
- Sim, mas é só um instantinho, pois vim comprar flores para a pequena Florence.
- Quem é pequena Florence? – Perguntei, achando curiosa aquela relação de flores.
- Vem comigo, você pode conhecer ela – disse a menina, pagando o pequeno ramalhete que escolhera e me tomando pela mão, mas não me puxando com muita força, porque eu estava dodói e não podia andar muito rápido.
Chegamos perto da porta de um quarto, ela soltou minha mão e entrou. Fiquei em dúvida sobre se a seguia ou não e, quando criei coragem somente para olhar, vi uma mãezinha recebendo as flores da menina e beijando-a maternalmente. A menina apontou para mim e sua mãe (como eu deduzi que fosse), ao me ver, sorriu e pareceu dar permissão à menina para alguma coisa.
- Venha ver a pequena Florence – falou a menina, pegando novamente minha mão e me levando até a parede de vidro por onde se podia ver as incubadoras.
Ela apontou para uma em que havia uma criança muito pequena, prematura, com luvinhas de crochê peroladas e um gorrinho roxo.
Não sei o que aconteceu comigo, só sei que fiquei muito comovida em ver a luta silenciosa daquela pequena e, sem saber, já dava orgulho à sua mãe por ser assim tão forte.
- Amor! – Escutei aquela voz doce e firme me chamando e logo me virei para a direção de onde ela vinha, sentindo as bochechas enrubescerem de emoção.
Sim! Era ele! Fui até ele o mais rápido que pude e ele também o fez até mim. Nos abraçamos longamente e me lembrei depois:
- Amor, essa é a... – Falei, me virando para minha nova amiguinha; porém, ela não me dissera seu nome... Mas, não havia mais ninguém ali, só os outros bebês além da janela e a pequena Florence junto delas, ainda lutando.
Paulia Barreto