A ALEGRIA NASCE DA ILUSÃO
Bastou-lhe apenas um banho para que toda sua beleza fosse dissolvida pela água e perdida pelo ralo. Agora, desprovida das artificialidades, era quase irreconhecível.
Sua voz permanecia a mesma; por isso, e unicamente por isso, era possível ter certeza de que se tratava da mesma pessoa. Aquilo que era, até então, um fator atrativo, era agora algo a ser ocultado, devido a repugnância que lhe causava: incomodava-lhe deixar a luz acesa!
Depois de uma hora, após realizar com mestria aquilo que se propusera a fazer, dirigiu-se ao espelho, abriu a bolsa e começou a cobrir o rosto com as artificialidades que há pouco a água dissolvera. Após concluir, sorriu: voltou a se achar bela! E realmente tinha ficado bela! Mas que alegria poderia proporcionar uma beleza escravizada pela artificialidade?!
– “ Toda alegria nasce da ilusão'', disse-me ela como se tivesse lido meus pensamentos.
Pensei em travar uma discussão filosófica a respeito da beleza, da alegria, da verdade... Mas como poderia acabar uma discussão filosófica com alguém que teme mostrar a cara, alguém que sempre se esconde camuflando-se?!
Não!! Não deveria eu dizer coisa alguma!
Talvez ela tenha razão ao afirmar que toda alegria nasce da ilusão. Sua alegria, da ilusão de ser bela; a minha, da ilusão de saber a verdade!
Maikon Jekson, 26/06/2016