O Semeador de Alegrias
O Juvenal era um homem feliz, desses que não precisam de motivos para sorrir. Vivia ele a perambular descalço pelas ruas e vilarejos. Falava com qualquer um que avistasse. Para ele todos eram pessoas amigas. Gostava de despertar a atenção com suas brincadeiras inocentes. Ninguém sabia nada sobre ele, se tinha família ou não tinha; se tinha casa ou não. Juvenal era um homem das ruas. Não era mal vestido porque sempre achava quem lhe dava roupas. Muita gente aprendeu a gostar dele e por isso o agradava com algum agasalho, comida etc. Alguns até lhe dava banho antes de vesti-lo com roupas limpas, às vezes até cortava-lhe o cabelo. Juvenal era o retrato do homem de rua, mas tinha o carinho de todos no lar que escolheu ou foi escolhido para viver. Muito boato surgiu sobre quem ele era verdadeiramente: diziam que tinha sido um homem de posses e perdeu tudo em jogos, diziam que foi abandonado pela mulher e filhos, mas ninguém sabia o certo quem era o Juvenal. Ele não contava nada sobre se mesmo, gostava de conversar, brincar, porém era reservado. Era bastante discreto quando alguém fazia perguntas sobre a sua vida. Juvenal era um semeador de alegria. Arrancava sorrisos da face de qualquer tristeza. Era um homem bom. No bairro onde ele perambulava, todos o conheciam e sabiam que ele não representava nenhum perigo à sociedade. Não parecia um mendigo ou um inopioso, quanto mais um criminoso. Esse homem que jamais havia se ausentado dos limites do seu bairro, que jamais deixara de ser visto todos os dias pelas pessoas, seus amigos, desapareceu. Sumiu de uma hora para outra, sem dá sinal de vida. No começo acharam que o Juvenal estivesse doente, mas depois, foi passando dias e nada do Juvenal. Já diziam que tinha morrido, procuraram, mas não o achara em lugar algum. Onde foi parar o Juvenal? Todos indagaram. Todos se preocuparam com o seu sumiço. Saíram em comitiva em busca do Juvenal e nada. O bairro inteiro ficou triste por causa do sumiço do Juvenal. Nunca mais ninguém havia sorrido. Estavam acostumados com ele, era ele que os faziam ficar alegres, era ele que contava as suas estórias engraçadas. Ele tinha o poder de apagar as tristezas dos rostos infelizes. Todos gostavam do Juvenal. Era esse mesmo o nome dele? Ninguém tinha certeza disso, embora todos tivessem costume de chamá-lo assim. Juvenal de que? Ninguém sabia. Você sabe onde foi o Juvenal? Conhece esse homem? Ninguém mais o viu, mas, quando alguém se lembra dele não fica triste pela sua ausência; fica feliz pela sua alegria. Quando se lembram do seu jeito de ser e das suas estórias, sentem-se felizes. Juvenal deixou o seu legado, não precisou ser um homem de posses, nem alguém de posição; apenas um homem feliz, largado e desconhecido de valores materiais. Despojado de qualquer outro interesse, senão o de semear alegria. Semeou a sua alegria pelos quatro cantos do pequeno mundo em que viveu. Com isso mostrou que não precisamos ostentar riquezas ou posições importantes, para sermos reconhecidos. Basta levar alegria por onde passar, levar um sorriso, um abraço amigo, uma palavra ou um gesto de carinho. Um homem tem o seu valor pela sua bondade, pela sua sabedoria, pela sua solidariedade. Esse não morre nunca, por mais que deixe de estar presente, sempre será lembrado como um homem de bem. Talvez o Juvenal jamais apareça, talvez tenha morrido realmente ou foi semear a sua alegria em outro lugar. Uma coisa é certa: da memória do seu povo jamais será esquecido. Se um dia você desaparecer? Será lembrado do mesmo jeito que o Juvenal? Pense e reveja os seus valores. O que as pessoas de sua convivência significam para você e o que você representa para a vida delas? Quantos vão sentir a sua falta? Quantos irão segurar a alça do seu esquife? Pense nisso. O valor que temos não está nos bens que possuímos, mas naquilo que realmente somos como seres humanos. O verdadeiro valor está naquilo que representamos de bom para a vida. Para nós mesmos e para os nossos irmãos.