Trago a Pessoa Amada em Três Dias
“Cartas e búzios. Trago a Pessoa Amada em Três Dias” - Dizia o panfleto colado num poste de rua.
E ele se surpreendeu anotando o número do telefone da cartomante, pensando em marcar uma consulta. A que ponto tinha chegado! Mas já não imaginava outro meio que a fizesse notar o seu desespero pelo fim do romance e estava disposto a qualquer coisa para ter aquela menina de volta.
Guardando sorrateiramente a anotação no bolso, olhou em volta buscando algum conhecido que o pudesse ter visto e atravessou a rua apressadamente.
Que situação! Logo ele, que poderia ter quantas garotas quisesse, estava agora amarrado por esta que teve a audácia de terminar com tudo. Ela!
Três semanas – e isso era um recorde – depois de haverem começado a sair juntos, ela o dispensou com a maior naturalidade do mundo quando ele ligou para marcar um programa qualquer. E de romper namoros ele entendia bem. Era sempre o protagonista e já tinha, de muito, decorado a sua melhor fala:
- Olha, meu bem, você é uma gracinha, é realmente muito especial e eu te curto muito..., mas estou vivendo uma fase de busca de mim mesmo e preciso “dar um tempo” sozinho. Você entende, não é? A gente se vê.
Declamava esse texto com voz pausada, como algo muito difícil de fazer, e invariavelmente a resposta do outro lado do fio era um chorinho triste de alguém que perde algo muito valioso.
Mas ele não era um canalha, ou, pelo menos, não se julgava como tal. Afinal, gostava de garotas e, durante uma ou duas semanas, as tratava como rainhas, fazendo com que se sentissem realmente muito felizes. Depois, as dispensava com jeito, tentando não magoar, e já imaginando novas investidas.
Até aquela noite em que a irmã do seu melhor amigo lhe apresentou a garota que parecia ser a sua próxima grande conquista. A festa estava chata e ele somente não tinha ido embora por consideração ao amigo quando vislumbrou o seu sorriso. Êpa! Sorriso?! O que havia sido feito da atenção ao decote, da busca pelas curvas e da observação nas cruzadas de pernas? - Estes considerados os requisitos essenciais para o “o bote”. Ela os dispensava todos. O seu sorriso lhe iluminava o rosto e apagava o que quer que viesse depois.
- Poxa, ela é linda! – Ele disse ao amigo, ansioso por ser apresentado. Não que precisasse realmente disso. Sempre se apresentou sozinho – tinha o texto certo para esses momentos – mas não sabia explicar porque esta o inibia. Quando finalmente falou com ela, a sua voz lhe soou como música e o resto da noite foi ao seu lado.
Mas não foi uma conquista fácil, como tinha imaginado antes. Aliás, uma semana foi gasta em convites até que ela decidisse aceitar o primeiro: Teatro. O quê?!!! Não parecia ser ele. Esse não era, absolutamente, um programa para se fazer com uma garota! O que havia acontecido com o barzinho, os drinks e o motel? Dava até vontade de desistir. Mas ele nunca interrompia um processo de conquista desde que o houvesse iniciado. E aquele se apresentava tão difícil que ele ansiava pelo desfecho e o que ganharia depois. Ele iria até o fim!
Teatros, cinemas, restaurantes, exposições de arte e nada de drinks e motel. Os amigos o torturavam dizendo não o reconhecer. Estaria perdendo seu poder de fascínio com as mulheres? Já estavam entrando na terceira semana saindo juntos e ele ainda não havia tocado seu corpo. Pronto! Estava decidido: ia terminar. E foi na véspera do rompimento que ela, para sua surpresa, o convidou para subir ao seu apartamento.
Ele foi cuidadoso. Surpreendeu-se extremamente romântico e a noite foi maravilhosa. Ela era perfeita em tudo e seus corpos combinaram plenamente. Sim, ele estava perdidamente apaixonado!
No dia seguinte, ela o descarta daquela maneira!
Tentou de tudo. Mandou-lhe flores, bombons, cartas. Deixou recados na secretária eletrônica, mandou bilhetes através da irmã do seu melhor amigo. Até provocou “encontros casuais” aparecendo algumas vezes nos lugares onde saberia encontrá-la. Tudo em vão. Ela havia sumido. Não queria nada com ele.
Abandonou a noite, rasgou a agenda dos “contatinhos”, aquele precioso caderninho com os nomes das garotas mais sexy com quem já havia saído uma ou outra vez, mudou completamente.
Os amigos lhe caíram na pele: “El Pegador” já não era mais o mesmo e tentaram de tudo para reanimá-lo. Durante meses montaram festas nos finais de semana, convidaram garotas para “reuniões especiais” em seus apartamentos e nada. Ele já não curtia esse tipo de vida. O pegador estava perdido de amores por alguém, afinal.
Por isso acreditava que a cartomante poderia ajudá-lo e ligou para marcar a consulta:
- Mãe Aurora. Posso ajudar a resolver algum problema? Passado, presente futuro. Trabalho, saúde, dinheiro e amor mal resolvido... – Ela diz com voz mecanicamente calma.
- É.… bem... - ele escolhe as palavras cautelosamente.
- Bom, sobre – pigarreia – trazer de volta a pessoa amad...
- Três dias, garantido, meu filho – ela o interrompe.
- Certo... e... como fazemos para marcar...
- Tem foto, mecha de cabelo, alguma peça de roupa ou qualquer objeto da moça? - Ela interrompe novamente.
- Bem... não deu tempo... - ele responde preocupado em não poder realizar a consulta.
- Não tem problema. Venha amanhã nessa mesma hora e em três dias seu amor vai estar de volta. É garantido!
Ele exultou de alegria! Mal podia esperar. Tê-la novamente, após quase um ano, era o que ocupava os seus pensamentos e estava próximo o fim daquela tortura.
Tomou um banho demorado antes de decidir-se sobre a roupa mais apropriada para o encontro com a cartomante. Checou a carteira, pois havia esquecido de perguntar o preço da consulta e não gostaria de deixar de ser atendido por falta de dinheiro. E foi nesse momento que ele encontrou o que lhe pareceu a coisa mais próxima do que seria um “objeto da moça” – o canhoto do ingresso do cinema do último filme que haviam visto juntos. Lá estavam marcados o número do assento, horário e data do filme, que ele até tinha gostado muito, e que tinha sido o último programa que fizeram. Com certeza ajudaria, pois estava inteiramente ligado a ela.
Levou. Teve que aguardar um pouco porque a consulta anterior tinha se alongado. Devia ser um caso complicado. Ainda bem que a sala de espera era para apenas um cliente por vez e que a porta de saída da sala de consulta não era a mesma por onde se entrava. Assim, não havia o menor risco de encontrar ou ser visto por alguém que não fosse a cartomante ou sua assistente, ele pensou.
Aproveitou a espera para olhar atenciosamente o local. Imagens de santos, colares de contas, orações num quadro de avisos e uma grande foto da Mãe Aurora sutilmente paramentada. Não se parecia em nada com a imagem que tinha feito dela. Aliás, estava muito longe da velha gorda e branca de cabelos tingidos, cobertos por lenços enrolados na cabeça, como tinha visto vez por outra na televisão. Apesar da pouca iluminação da saleta, dava para notar que era jovem, tinha traços finos e vestia-se com elegância, podendo-se até perceber que tinha um belo corpo.
- Se não for uma foto muito antiga e nada der certo depois da consulta, acho que voltarei aqui com mais problemas para resolver... - ele pensa, tendo uma recaída - e assusta-se com a voz da assistente avisando que Mãe Aurora o irá receber nesse momento. Ela procede a um ritual de “limpeza” antes de lhe abrir a porta e ele sente o coração disparar. A possibilidade de voltar a ter sua garota está mais próxima agora.
Em três dias, garantido!
A sala é menos iluminada que a saleta de espera. Mãe Aurora o recebe sentada, mas levanta-se para uma saudação ritual. E ele quase confirma a sua observação da sala anterior. Ela jamais seria uma velha como a imagem que tinha de cartomantes. É realmente uma mulher muito bonita e transbordando sensualidade.
Ela lhe explica o procedimento da consulta e também lhe dá o preço.
- Nada barato, por isso é tão bem cuidada - ele reflete.
- Sei que não cobro pouco - ela fala como se lesse seu pensamento - mas garanto o meu trabalho e é isso que me torna especial. Mãe Aurora jamais decepcionou ninguém.
Nesse momento não apresentava aquela voz de explicação tão mecânica de quando lhe falou ao telefone. Falava firmemente, olhando diretamente nos olhos do seu cliente.
- Agora mesmo acabei de liberar uma cliente que, por fim, deu-se por satisfeita com os resultados do meu trabalho. Não pense que lhe relato isso com a intenção de qualquer tipo de convencimento da minha capacidade, mas o fato é que, segundo a própria, o que ela obteve de resposta foi infinitamente superior ao que esperava e estava muito feliz. Estivemos trabalhando por quase um ano, mas ela não tinha pressa. Queria o seu homem completamente seu e preferia que eu trabalhasse devagar. Além disso, o que ela possuía do moço não era muito concreto. Nenhuma foto, mecha de cabelo, peça de roupa ou objeto pessoal...
- Com relação a isso – ele diz, interrompendo – eu também não possuo nada de concreto que tenha pertencido a ela e agora estou com medo de levar quase um ano para tê-la de volta. Já esperei por tanto temp...
- Você não me deixou terminar. E se lhe disse que a teria em três dias é porque a terá – ela contesta, incisiva.
- Desculpe, não queria ofendê-la – defende-se humildemente.
- Você não me ofendeu. O meu trabalho é garantido e vou lhe provar.
Não foram necessárias fotos, mecha de cabelo e etc., para a concretização do trabalho porque o que a moça possuía era muito maior. Ela tinha muitas cartas, flores secas, embalagens de doces que lhe haviam sido enviadas por ele, mas apenas um pequeno pedaço de papel continha a força que eu precisava. Nesse pedaço de papel havia a energia dos dois e foi nessa energia que me concentrei.
Ele começa a se animar. Pensa no canhoto do ingresso que tem na carteira e tem quase certeza que servirá. Quando vai pegá-lo para mostrar-lhe, Mãe Aurora o convida a levantar-se e encaminham-se a um pequeno altar onde velas acesas e búzios emolduram um pequeno pedaço de papel, que ele reconhece de imediato. Lá estão o dia, a hora e o número do assento vizinho ao seu no cinema do último filme que tinha visto com a sua garota.
E ele se surpreendeu anotando o número do telefone da cartomante, pensando em marcar uma consulta. A que ponto tinha chegado! Mas já não imaginava outro meio que a fizesse notar o seu desespero pelo fim do romance e estava disposto a qualquer coisa para ter aquela menina de volta.
Guardando sorrateiramente a anotação no bolso, olhou em volta buscando algum conhecido que o pudesse ter visto e atravessou a rua apressadamente.
Que situação! Logo ele, que poderia ter quantas garotas quisesse, estava agora amarrado por esta que teve a audácia de terminar com tudo. Ela!
Três semanas – e isso era um recorde – depois de haverem começado a sair juntos, ela o dispensou com a maior naturalidade do mundo quando ele ligou para marcar um programa qualquer. E de romper namoros ele entendia bem. Era sempre o protagonista e já tinha, de muito, decorado a sua melhor fala:
- Olha, meu bem, você é uma gracinha, é realmente muito especial e eu te curto muito..., mas estou vivendo uma fase de busca de mim mesmo e preciso “dar um tempo” sozinho. Você entende, não é? A gente se vê.
Declamava esse texto com voz pausada, como algo muito difícil de fazer, e invariavelmente a resposta do outro lado do fio era um chorinho triste de alguém que perde algo muito valioso.
Mas ele não era um canalha, ou, pelo menos, não se julgava como tal. Afinal, gostava de garotas e, durante uma ou duas semanas, as tratava como rainhas, fazendo com que se sentissem realmente muito felizes. Depois, as dispensava com jeito, tentando não magoar, e já imaginando novas investidas.
Até aquela noite em que a irmã do seu melhor amigo lhe apresentou a garota que parecia ser a sua próxima grande conquista. A festa estava chata e ele somente não tinha ido embora por consideração ao amigo quando vislumbrou o seu sorriso. Êpa! Sorriso?! O que havia sido feito da atenção ao decote, da busca pelas curvas e da observação nas cruzadas de pernas? - Estes considerados os requisitos essenciais para o “o bote”. Ela os dispensava todos. O seu sorriso lhe iluminava o rosto e apagava o que quer que viesse depois.
- Poxa, ela é linda! – Ele disse ao amigo, ansioso por ser apresentado. Não que precisasse realmente disso. Sempre se apresentou sozinho – tinha o texto certo para esses momentos – mas não sabia explicar porque esta o inibia. Quando finalmente falou com ela, a sua voz lhe soou como música e o resto da noite foi ao seu lado.
Mas não foi uma conquista fácil, como tinha imaginado antes. Aliás, uma semana foi gasta em convites até que ela decidisse aceitar o primeiro: Teatro. O quê?!!! Não parecia ser ele. Esse não era, absolutamente, um programa para se fazer com uma garota! O que havia acontecido com o barzinho, os drinks e o motel? Dava até vontade de desistir. Mas ele nunca interrompia um processo de conquista desde que o houvesse iniciado. E aquele se apresentava tão difícil que ele ansiava pelo desfecho e o que ganharia depois. Ele iria até o fim!
Teatros, cinemas, restaurantes, exposições de arte e nada de drinks e motel. Os amigos o torturavam dizendo não o reconhecer. Estaria perdendo seu poder de fascínio com as mulheres? Já estavam entrando na terceira semana saindo juntos e ele ainda não havia tocado seu corpo. Pronto! Estava decidido: ia terminar. E foi na véspera do rompimento que ela, para sua surpresa, o convidou para subir ao seu apartamento.
Ele foi cuidadoso. Surpreendeu-se extremamente romântico e a noite foi maravilhosa. Ela era perfeita em tudo e seus corpos combinaram plenamente. Sim, ele estava perdidamente apaixonado!
No dia seguinte, ela o descarta daquela maneira!
Tentou de tudo. Mandou-lhe flores, bombons, cartas. Deixou recados na secretária eletrônica, mandou bilhetes através da irmã do seu melhor amigo. Até provocou “encontros casuais” aparecendo algumas vezes nos lugares onde saberia encontrá-la. Tudo em vão. Ela havia sumido. Não queria nada com ele.
Abandonou a noite, rasgou a agenda dos “contatinhos”, aquele precioso caderninho com os nomes das garotas mais sexy com quem já havia saído uma ou outra vez, mudou completamente.
Os amigos lhe caíram na pele: “El Pegador” já não era mais o mesmo e tentaram de tudo para reanimá-lo. Durante meses montaram festas nos finais de semana, convidaram garotas para “reuniões especiais” em seus apartamentos e nada. Ele já não curtia esse tipo de vida. O pegador estava perdido de amores por alguém, afinal.
Por isso acreditava que a cartomante poderia ajudá-lo e ligou para marcar a consulta:
- Mãe Aurora. Posso ajudar a resolver algum problema? Passado, presente futuro. Trabalho, saúde, dinheiro e amor mal resolvido... – Ela diz com voz mecanicamente calma.
- É.… bem... - ele escolhe as palavras cautelosamente.
- Bom, sobre – pigarreia – trazer de volta a pessoa amad...
- Três dias, garantido, meu filho – ela o interrompe.
- Certo... e... como fazemos para marcar...
- Tem foto, mecha de cabelo, alguma peça de roupa ou qualquer objeto da moça? - Ela interrompe novamente.
- Bem... não deu tempo... - ele responde preocupado em não poder realizar a consulta.
- Não tem problema. Venha amanhã nessa mesma hora e em três dias seu amor vai estar de volta. É garantido!
Ele exultou de alegria! Mal podia esperar. Tê-la novamente, após quase um ano, era o que ocupava os seus pensamentos e estava próximo o fim daquela tortura.
Tomou um banho demorado antes de decidir-se sobre a roupa mais apropriada para o encontro com a cartomante. Checou a carteira, pois havia esquecido de perguntar o preço da consulta e não gostaria de deixar de ser atendido por falta de dinheiro. E foi nesse momento que ele encontrou o que lhe pareceu a coisa mais próxima do que seria um “objeto da moça” – o canhoto do ingresso do cinema do último filme que haviam visto juntos. Lá estavam marcados o número do assento, horário e data do filme, que ele até tinha gostado muito, e que tinha sido o último programa que fizeram. Com certeza ajudaria, pois estava inteiramente ligado a ela.
Levou. Teve que aguardar um pouco porque a consulta anterior tinha se alongado. Devia ser um caso complicado. Ainda bem que a sala de espera era para apenas um cliente por vez e que a porta de saída da sala de consulta não era a mesma por onde se entrava. Assim, não havia o menor risco de encontrar ou ser visto por alguém que não fosse a cartomante ou sua assistente, ele pensou.
Aproveitou a espera para olhar atenciosamente o local. Imagens de santos, colares de contas, orações num quadro de avisos e uma grande foto da Mãe Aurora sutilmente paramentada. Não se parecia em nada com a imagem que tinha feito dela. Aliás, estava muito longe da velha gorda e branca de cabelos tingidos, cobertos por lenços enrolados na cabeça, como tinha visto vez por outra na televisão. Apesar da pouca iluminação da saleta, dava para notar que era jovem, tinha traços finos e vestia-se com elegância, podendo-se até perceber que tinha um belo corpo.
- Se não for uma foto muito antiga e nada der certo depois da consulta, acho que voltarei aqui com mais problemas para resolver... - ele pensa, tendo uma recaída - e assusta-se com a voz da assistente avisando que Mãe Aurora o irá receber nesse momento. Ela procede a um ritual de “limpeza” antes de lhe abrir a porta e ele sente o coração disparar. A possibilidade de voltar a ter sua garota está mais próxima agora.
Em três dias, garantido!
A sala é menos iluminada que a saleta de espera. Mãe Aurora o recebe sentada, mas levanta-se para uma saudação ritual. E ele quase confirma a sua observação da sala anterior. Ela jamais seria uma velha como a imagem que tinha de cartomantes. É realmente uma mulher muito bonita e transbordando sensualidade.
Ela lhe explica o procedimento da consulta e também lhe dá o preço.
- Nada barato, por isso é tão bem cuidada - ele reflete.
- Sei que não cobro pouco - ela fala como se lesse seu pensamento - mas garanto o meu trabalho e é isso que me torna especial. Mãe Aurora jamais decepcionou ninguém.
Nesse momento não apresentava aquela voz de explicação tão mecânica de quando lhe falou ao telefone. Falava firmemente, olhando diretamente nos olhos do seu cliente.
- Agora mesmo acabei de liberar uma cliente que, por fim, deu-se por satisfeita com os resultados do meu trabalho. Não pense que lhe relato isso com a intenção de qualquer tipo de convencimento da minha capacidade, mas o fato é que, segundo a própria, o que ela obteve de resposta foi infinitamente superior ao que esperava e estava muito feliz. Estivemos trabalhando por quase um ano, mas ela não tinha pressa. Queria o seu homem completamente seu e preferia que eu trabalhasse devagar. Além disso, o que ela possuía do moço não era muito concreto. Nenhuma foto, mecha de cabelo, peça de roupa ou objeto pessoal...
- Com relação a isso – ele diz, interrompendo – eu também não possuo nada de concreto que tenha pertencido a ela e agora estou com medo de levar quase um ano para tê-la de volta. Já esperei por tanto temp...
- Você não me deixou terminar. E se lhe disse que a teria em três dias é porque a terá – ela contesta, incisiva.
- Desculpe, não queria ofendê-la – defende-se humildemente.
- Você não me ofendeu. O meu trabalho é garantido e vou lhe provar.
Não foram necessárias fotos, mecha de cabelo e etc., para a concretização do trabalho porque o que a moça possuía era muito maior. Ela tinha muitas cartas, flores secas, embalagens de doces que lhe haviam sido enviadas por ele, mas apenas um pequeno pedaço de papel continha a força que eu precisava. Nesse pedaço de papel havia a energia dos dois e foi nessa energia que me concentrei.
Ele começa a se animar. Pensa no canhoto do ingresso que tem na carteira e tem quase certeza que servirá. Quando vai pegá-lo para mostrar-lhe, Mãe Aurora o convida a levantar-se e encaminham-se a um pequeno altar onde velas acesas e búzios emolduram um pequeno pedaço de papel, que ele reconhece de imediato. Lá estão o dia, a hora e o número do assento vizinho ao seu no cinema do último filme que tinha visto com a sua garota.