CRÉDITO DE IMAGEM: GOOGLE
DEPRESSÃO
DEPRESSÃO
O telefone tocou e após um curto período de letargia, Américo atendeu:
- Estou?
- É da linha SNS 24*?
- Não, é de uma casa particular.
- Ah… - o desapontamento transpareceu do tom de voz. - Preciso tanto de ajuda…
Américo nada tinha a ver com esse serviço, mas gostava de ajudar os outros e a voz do outro lado transparecia uma súplica.
- Apesar de não pertencer a um serviço de saúde, diga-me em que posso ajudá-la…
- Tenho regularmente crises de pânico e depressão e o medicamento que tomo, um ansiolítico, está esgotado. Tenho muitas dificuldades em contatar o serviço cuja chamada deu origem a este equívoco, possivelmente devo ter-me enganado ao digitar.
- Não sou médico nem psicólogo, mas sei que conversando decerto que se sentirá melhor, menos ansiosa. Possivelmente toda esta situação que atravessamos também é responsável, estarei errado?
- Na realidade, sim. O facto de não poder sair de casa aflige-me. Além disso, vivo sozinha, nem animais de estimação tenho, devido às alergias.
- Está empregada?
- Não, vivo de uma pequena pensão que herdei de minha mãe.
- Pois… Se gostar de ler, de ouvir música, de cinema na TV, tem meios acessíveis de distração. Tem de apelar à imaginação, menina…
- Já não sou propriamente menina, sou de meia-idade e chamo-me Patrícia.
- Eu chamo-me Américo. Patrícia, posso tratá-la assim? Sabia que pode sair para comprar alimentos, ir a um centro de saúde, praticar jogging?
- Eu tenho medo de sair de casa…. É uma vizinha que me faz as compras de primeira necessidade.
- Hummm… Assim é um pouco mais complicado. Tirando a distração, que parece não dar resultado, só mesmo a medicação, que agora está em falta, mas na realidade há muitos medicamentos esgotados…. Então e pessoas amigas, telefonar-lhes e conversar um pouco?
- Não tenho família chegada e no prédio só falo, e pouco, com a tal vizinha que me faz as compras.
- Assim vai ser mais complicado viver o dia-a-dia. Tente falar com a sua vizinha… Não tem muitas alternativas. Se quiser, pode falar comigo. Desde que possa, conversarei consigo.
- Obrigado pela sua paciência. Desculpe o engano. Passe bem.
Américo ficou a olhar para o telefone…
De facto, eram imensos os dramas que ocorriam entre quatro paredes, no silêncio dos apartamentos. Sentiu que tinha feito a sua obrigação e foi ligar o televisor. Tinha várias gravações da TV cabo para ver.
*SNS24 – Serviço Nacional de Saúde 24.
https://www.youtube.com/watch?v=UrpyVQFKO7E
REM - Everybody Hurts
- Estou?
- É da linha SNS 24*?
- Não, é de uma casa particular.
- Ah… - o desapontamento transpareceu do tom de voz. - Preciso tanto de ajuda…
Américo nada tinha a ver com esse serviço, mas gostava de ajudar os outros e a voz do outro lado transparecia uma súplica.
- Apesar de não pertencer a um serviço de saúde, diga-me em que posso ajudá-la…
- Tenho regularmente crises de pânico e depressão e o medicamento que tomo, um ansiolítico, está esgotado. Tenho muitas dificuldades em contatar o serviço cuja chamada deu origem a este equívoco, possivelmente devo ter-me enganado ao digitar.
- Não sou médico nem psicólogo, mas sei que conversando decerto que se sentirá melhor, menos ansiosa. Possivelmente toda esta situação que atravessamos também é responsável, estarei errado?
- Na realidade, sim. O facto de não poder sair de casa aflige-me. Além disso, vivo sozinha, nem animais de estimação tenho, devido às alergias.
- Está empregada?
- Não, vivo de uma pequena pensão que herdei de minha mãe.
- Pois… Se gostar de ler, de ouvir música, de cinema na TV, tem meios acessíveis de distração. Tem de apelar à imaginação, menina…
- Já não sou propriamente menina, sou de meia-idade e chamo-me Patrícia.
- Eu chamo-me Américo. Patrícia, posso tratá-la assim? Sabia que pode sair para comprar alimentos, ir a um centro de saúde, praticar jogging?
- Eu tenho medo de sair de casa…. É uma vizinha que me faz as compras de primeira necessidade.
- Hummm… Assim é um pouco mais complicado. Tirando a distração, que parece não dar resultado, só mesmo a medicação, que agora está em falta, mas na realidade há muitos medicamentos esgotados…. Então e pessoas amigas, telefonar-lhes e conversar um pouco?
- Não tenho família chegada e no prédio só falo, e pouco, com a tal vizinha que me faz as compras.
- Assim vai ser mais complicado viver o dia-a-dia. Tente falar com a sua vizinha… Não tem muitas alternativas. Se quiser, pode falar comigo. Desde que possa, conversarei consigo.
- Obrigado pela sua paciência. Desculpe o engano. Passe bem.
Américo ficou a olhar para o telefone…
De facto, eram imensos os dramas que ocorriam entre quatro paredes, no silêncio dos apartamentos. Sentiu que tinha feito a sua obrigação e foi ligar o televisor. Tinha várias gravações da TV cabo para ver.
*SNS24 – Serviço Nacional de Saúde 24.
https://www.youtube.com/watch?v=UrpyVQFKO7E
REM - Everybody Hurts