Tabacaria
Às vezes sinto como se tudo tivesse desmoronado em minha frente, não consigo mais sentir emoção nenhuma das coisas, como se eu não vivesse mais, estivesse vegetando nesse asteroide chamado de terra. Minha escrita xucra que me dava tanto prazer, hoje raramente escrevo e quando vou não sinto nada. O meu sorriso espontâneo, que era tão cheio de molecagem e inocência, hoje está cada vez se apagando, como se até ele já tivesse sido envenenado por essa injustiça.
Eu não sei quem mais sou! Antes eu era tão cheio de vida, com um futuro tão belo, era amado por tantos, e agora estou chutado do meu próprio corpo, como se tudo que eu já tivesse feito não valesse mais nada. Sendo tratado como um louco, como um cachorro rabugento que está na frente do seu restaurante chique. Você sabe quem eu sou? Se souber me diga! Não, é melhor não dizer, pra quê lhe importunar com perguntas difíceis? Não importa mais que sou.
Pra onde é que estou indo? Eu realmente não sei, mas se eu soubesse adiantaria alguma coisa? Provavelmente não! E você aí, sabe? Não? Tá bom então! Eu corri tanto, mas como eu corri, parecia um cachorro atrás da canela do motoqueiro, de um leopardo atrás de caça, parecia mais um velocista querendo bater o recorde mundial, mas isso me levou pra onde? Eu cheguei ao topo? Sim, cheguei! Mas quem estava lá comigo? Ninguém, eu estava sozinho no relento, sem amigos, amores ou algo do tipo. E cair! Cair lá do alto, como fosse uma pena, que foi jogada do decimo segundo andar, sem ter onde me apoiar, sem ninguém pra segurar ou pra chorar por minha queda. Eu sonhei tanto por isso, trabalhei tanto pra chegar, que me esqueci dos outros, e agora não a porque e queixar.
O mundo não é pra os fracos, é pra quem nasce para conquista-lo. Eu fechei os olhos pra tanta injustiça, virei a cara pra tanta humilhação, pedi a benção pra tanto traidores, jantei pessoas em banquetes tão chiques, que hoje me escondo da vergonha e dos olhos daqueles que me vê na sarjeta. Pensei que eu era o Apolo e cheguei perto do sol, e quando fui ver era Ícaro sendo queimado pelos raios da arrogância.
Ontem eu era a grande novidade, nos melhores restaurantes, nas melhores boates, com rodeado de gente, e sendo amado por milhares. Hoje já caído na beira desse precipício da sanidade que observo a nova grande novidade, que coisinha tão bela, ela não sabe quem sou eu e aqueles que a rodeiam nem fazem questão de me apresentar. Pobre inocente nem imagina as coisas que ainda vai passar, vão brincar, abusar e depois jogar fora, o mundo é desse jeito e ela vai aprender como eu aprendi, sendo escorraçada como animal. Mas brigar, ter raiva não adianta quem sou eu contra esse império? Infelizmente não posso fazer nada, só posso mesmo é continuar observando. Logo, logo ela vai ser minha próxima companhia aqui, até lá vou ficar aqui fumando.