Matilde e Eulálio

RELIGIOSO fanático, fundamentalista e ainda por cima fã do fascismo, encontrou a filha de 19 anos lendo um romance, viu pela capa que o autor era Chico Buarque de Holanda, o livro era "Leite Derramado",arrancou-o brutalmente das mãos da filha e leu um trecho justamente na página que a garota estava lendo:

"Então me vi tomado de um sentimento obscuro, entre a vergonha e a raiva de gostar de uma mulher que vive na cozinha. Eu seguia Matilde, que falava sozinha, que meio cantarolando perguntava pelo chá de boldo. e de repente não sei o que me deu, agarrei-a com violência pelas costas. Joguei-a contra a parede e ela não entendeu, começou a emitir gemidos nasais, o rosto achatado nos ladrilhos. Prendi seus punhos na parede. ela se debatia, mas eu a controlava com meus joelhos atrás dos seus. E com meu tronco eu a apertava, eu a espremia a valer, eu quase a esmagava na parede, até que Matilde disse, eu vou, Eulálio, e seu corpo tremeu inteiro, levando o meu a tremer junto".

Pegou o livro e foi reclamar na Biblioteca do colégio onde a filha tomara emprestado. Lá chegando bufando e urrando de raiva, foi atendido por uma secretária delicada mas muito gozadora. Antes que ele quebrasse algo, ela lhe disse: - Relaxe, senhor, relaxe, até para fazer amor é preciso relaxar. O cara babou de raiva. Ela depois de ler o trecho imoral, segundo o pai fundamentalista, disse: - Senhor isso faz parte de um contexto. Não se pode analisar ma obra pinçando um trecho. Leia o livro todo, não chore sobre o leite derramado. Ele jogou o livro no chão e saiu fumaçando. A moça ficou rindo. Inté.