O candidato
Um cliente nos havia dado um prazo reduzido para preencher uma vaga no suporte técnico da sua nova filial. Não era o tipo de função para a qual tivéssemos muitos candidatos em nosso banco de dados, e tivemos que eliminar algumas fases no processo de seleção, para agilizar; nada de dinâmica de grupo, por exemplo. Finalmente, optamos por um candidato bem-avaliado por seus ex-empregadores, com ótimas referências, e o conjunto certo de habilidades no currículo. Restava apenas fazer uma entrevista presencial, para definir se o enviaríamos ao cliente.
O candidato (vamos chamá-lo Jonas), um sujeito de cerca de 25 anos e aparência desleixada, entrou na minha sala com um copo de café e um saco de papel pardo na mão.
- A senhora se importa se eu lanchar durante a entrevista? - Indagou ele, sentando-se à minha frente e retirando um x-burguer do saco.
- Se você está com fome, pode comer - repliquei, desenhando um "X" no risque rabisque sobre a minha mesa. - Mas porque não tomou seu café antes de sair de casa?
- Eu moro longe - explicou. - Para chegar a tempo, tive que sair muito cedo de casa, e não consigo pôr nada no estômago logo que me levanto.
E como eu continuasse em atitude de expectativa, completou:
- Mas segundo me disse, o horário de trabalho nesta empresa que está recrutando, é à tarde, então não terei esse tipo de problema lá. Ademais, fica a menos de dois quilômetros da minha casa, posso ir até a pé.
"Boa resposta", anotei.
Finda a entrevista, perguntei se ele tinha alguma pergunta a me fazer.
- Sobre o quê? - Indagou, surpreso.
- Algo que queira saber sobre a empresa, o ambiente de trabalho... esse tipo de coisas - redargui.
- Ah, sim... - Jonas parecia pensativo. - Sabe a média de idade dos empregados lá? E se trabalham muitas mulheres?
- Bem... essa não é uma pergunta para a qual eu tenha uma resposta pronta - admiti. - Creio que a equipe de suporte deve estar na sua faixa etária, a gerência é um pouco mais velha, e a diretoria consideravelmente mais velha. Como é uma empresa de serviços, provavelmente mais da metade dos empregados deve ser do sexo feminino.
Jonas ouviu a minha resposta fazendo ruídos de concordância.
- E você, tem algum problema com mulheres? - Indaguei muito séria, mãos espalmadas sobre a mesa.
- De forma alguma! - Replicou ele, erguendo as mãos.
E, com um sorriso envergonhado:
- É que eu estou solteiro, e seria bom se arrumasse uma namorada no local de trabalho. Ainda mais, perto da minha casa...
"Cara de pau", pensei.
Mandei a ficha de Jonas para o cliente, fazendo a ressalva de que talvez ele estivesse buscando um relacionamento com uma das colaboradoras. O diretor de Recursos Humanos deles achou graça.
- Consideramos nossa empresa como uma família... se ele quer constituir uma aqui, será bem-vindo!
Jonas foi contratado, e pelo que soube, logo em seguida arranjou uma namorada no trabalho.
- [10-12-2019]