UM CONTÃO (teste de escrita)
Após um dia exaustivo de brincadeiras e estripulias infantis no parque do Cacarejo próximo a casa de sua vó Elinaura Montezino, Peterson, uma criança de oito anos de idade, descansava em seu leito coberto por um jogo de edredons azuis com desenhos de carros diminutos e travesseiro sem fronha, tendo em vista a significante fadiga gerada pelas correrias daquele dia e quase onipotentes forças gastas em gritos e farra com seus coleguinhas, todos monitorados pelo olhar caridoso de Elinaura, que levara o neto pra passear em uma de suas folgas do trabalho de costura.
Os pais de Peterson, o sr. e a sra. Joconisvaldinos, de uma família abastada pelo negócio de varejo e atacado que tinham no centro da cidade de São Paulo, estavam dormindo há algumas horas. A criança, entretanto, foi desperta por volta de meia-noite e meia com um incômodo em suas glândulas salivares e certa avidez por água.
"Estou com sede!" Exclamou o pequeno.
Peterson era magro, de tamanho médio para uma criança de oito anos, cabelos crespos, mãos e pés com cinco dedos cada membro e uma voz que só poderia distinguir se ele falasse.
Olhava semi-acordado para o seu quarto que se mantinha com as luzes apagadas. Sentou-se em sua cama, descobriu-se dos pesados edredons, e tateando o chão com os pés, procurou seus chinelos de Homem-Aranha tamanho 30 para calça-los, uma vez que sua mãe sempre lhe alertara em evitar andar com a soleira dos pés sem proteção, visando preservar a saúde do menino para que não contraísse enfermidades de cunho viral ou bacterianas.
Apalpou o criado-mudo ladeado de sua cama já com sinais de desorganização e colocou seus óculos de aros. Examinou com as mãos o local e cuidadosamente dirigiu-se até a porta do seu quarto para pressionaro interruptor, e assim, acender a luz do aposento envolto em trevas.
O quarto era bastante aconchegante. Um guarda-roupa de cor mogno onde continha as vestes de variadas ocasiões do menino em questão, um pequenino espelho junto as quatro gavetas de meias, cuecas, toalhas de banho e alguns pequenos apetrechos baratos adquiridos em lojas de quinquilharias. As paredes tingidas de uma tinta azul escuro, pintadas por seu pai, o sr. Joconisvaldino no dia em que soube que sua esposa, sra. Joconisvaldino estava grávida já há cinco meses. Um pôster de tamanho quase que de um adulto da Marvel e do Ben 10, desenho esse que o garoto mesmo dizia ser o seu preferido, e um relógio digital com alarme sobre o pequeno criado-mudo, relógio esse que lhe informava todas as divisões de tempos em horas, minutos e segundos.
Abrindo a porta, o seu ranger tornou-se nítido, embora sua intenção nunca fosse acordar seus pais, recordando sempre das célebres e constantes frases que sua mãe lhe asseverava sobre o sono do provedor da casa:
"Não vai acordar seu pai, não, praga! Senão ele te dá uma surra."
A cozinha ficava no andar de baixo. No escuro, ele andou sorrateiramente até a escada e arrastou-se como um rato em busca de alimento pelas escadas. Seus pés tocavam o chão dos degraus feitos de cimento e revestidos de azulejos losangulares cor cinza-escuro quase que como um pintor toca seu pincel na tela quando vai retocar um leve traço de sua obra. A escada possuía catorze degraus.
Quando conseguiu descer sem fazer muito ruído aparente, e alegrando-se de que não acordara seus pais, direcionou-se até a cozinha, que também, estava com as luzes das lâmpadas brancas econômicas de led desligadas.
Na mesa com pedra de mármore negro, onde se postavam quatro cadeiras feitas de ferro com a almofada colorida de verde e preto. Sobre essa mesa havia seis copos americanos de vidro. Peterson fixou seu olhar nos seis copos, como quem olha para um cântaro em meio ao deserto.
Ele escolhe com determinação um dos copos e com o mesmo vai até a pia da cozinha. A torneira de alumínio permanecia desligada em seu torno até o presente momento.
O garoto colocou uma de suas mãos, a mão direita, que alegava ser sua mão da sorte pelo fato de ser a mesma com que escrevia em sala de aula na escola de Pirimptorietório, e num sutil giro, fez com que a água retida pelo mecanismo da torneira fluísse dela.
Deixando a água cair um pouco sobre a cuba alumínica da parte inferior da pia da cozinha, colocou o copo americano de vidro embaixo do fluxo aquático. O copo rapidamente se encheu e quando quase transbordou, Peterson desligou a torneira.
O menino, com sede crescente, levou o copo com água à boca, abriu os lábios e milimetricamente succionou cada gole de H20. Água essa encanada direto da caixa d'água de sua casa, que ficava em cima da laje.
SENTIA UMA SENSAÇÃO SENSACIONAL ao deglutir cada partícula aquosa do elemento. Suas glândulas salivares eram regadas qual terra seca ao receber chuva fresca e seu esôfago tinha afável receptividade ao dessedentar-se com o líquido de temperatura fria.
Ah. Tá bom. Cansei. Como eu poderia ter escrito essa história:
"O menino acordou a noite e bebeu água."
Fim.
Obs: esse conto foi inspirado um pouco no estilo de de H. P. Lovecraft. Vale ressaltar que sou super fã do autor, porém ele se estende demais em alguns detalhes. Recomendo pra quem curte terror cósmico e uma linguagem elegante dar uma lida em algo dele.