Não salte
Com pensamentos totalmente confusos, com os olhos tristonhos e o coração pesado, eu caminhei.
Eu não sabia pra onde ir, mas parecia que meu corpo sabia do que necessitava.
- Ali está!
A voz me dizia.
Uma ponte com o São Francisco abaixo.
- Pula, e tudo estará resolvido.
A voz me incentivava.
Com a mente cheia de imagens, com o coração pesado e uma vida de perdas sem ganho algum.
Um filho que morreu aos seus seis anos de idade devido a negligência dos médicos, uma esposa que me culpa pelo acidente no qual eu cochilei no volante ocasionando o fim do meu bem mais precioso e a decapitação da perna direita dela.
Passei as pernas por cima das grades amarelas e enferrujadas e olhei para o meu horizonte.
- Vamos, falta pouco...
Se desprenda das grades e venha pra mim...
O suor corria pelo meu rosto, minhas pernas tremiam, meu coração estava disparado, soltei uma mão e em seguida a outra, era só inclinar o corpo e por fim ao sofrimento...
Um caminhão se aproximava na pista contrária, um grito, um despertar.
- JESUS TE AMAAA!
Imediatamente me agarrei nas grandes novamente, voltei as pernas por cima das grades e debruçado sobre ela, chorei!
Senti um calor no meu corpo, senti um alívio no peito e na alma.
E enquanto eu soluçava em meio ao meu choro, uma voz dizia:
- Está tudo bem meu filho, não desvie mais o seu olhar de mim, não ouça outra voz que não seja a do teu pastor.
Eu estou sempre contigo!
Depois de quase dez minutos chorando, fui tocado no ombro e quando elevei meus olhos ganhei um abraço de quem foi usado por Deus para me fazer viver, o caminhoneiro.