Ela tinha um tique ao sentir aflição

Ela tinha um tique ao sentir aflição. O dela era a movimentação da ponta dos pés ligeiramente para cima e para baixo. E, nesse momento, não era diferente. Mesmo abraçada pelo marido e pelo seu filho mais novo, a despedida do filho mais velho a deixava com o coração apertado, ainda mais ao saber que daqui a sete minutos, o ônibus partira e não o veria mais. Não em breve.

Era a primeira vez que Rodrigo estava morando fora de casa. E não era perto. Ficava dois mil e quatrocentos quilômetros distante. Ele estava feliz por ter conseguido a bolsa de estudos e uma promessa de trabalho.

O pai e o filho mais novo também estavam felizes por ele e tentavam animar a mãe que ria um pouco, mas lágrimas caíam do seu rosto e o coração sentia muito ao ver seu filho quase partindo.

Ele, pela janela, vê a mãe um pouco desamparada e lamenta que já não pode dar um último abraço, dizer que a ama e que fará uma falta tremenda. Além de mãe e filho, eles eram amigos. Saíam juntos. Conversavam juntos. Eram cúmplices. Ele esteve sempre junto quando ela teve câncer. Foi ele quem mais doou sangue em razão da compatibilidade. E, com certeza, um pedaço dele estava deixando ali.

Num último tchau, ela abana, sorri, manda um beijo e olha diretamente para os olhos dele como se dissesse: "tudo vai dar certo e eu estarei aqui, sempre, meu filho!" Ele tenta sorrir de volta, de canto da boca, envergonhado, e com uma lágrima de conforto e de saudade antecipada, enquanto lentamente o ônibus se afasta.