M a t u t a n d o

Estava num dia ruim, como dizia um irmão dele: amanhecera de ovo virado. Sozinho na sua cadeira de balanço rangedeira matutava achando que as pessoas estavam tão obcecadas pela moda, pela vaidade, pelo consumismo que haviam esquecido de olhar para o céu, para a lua, para as estrelas. Não tinham sequer um tempinho para conversar com seus botoes, não reservavam um momento para ler um bom livro e nem para ouvir musica de qualidade. Não curtiam nem a pau a natureza. Era só moda, mania de celebridade, amostramento. Seria té cômico se não fosse trágico. Trágico porque esse comportamento irracional virara cultura. A imbecilidade fora institucionalizada. Lembrava que havia até pessoas que chegavam ao cúmulo de se envergonhar das suas raízes, do folclore de sua terra, dos parentes pobres, da sua história de vida.

Dizia a seus botões:- Não, não se pode e nem se deve reagir contra as novas tecnologias e nem contra o tal progresso. Mas anão se devia ficar obcecado pelas máquinas e nem pelo questionável progresso e modismo. Era preciso viver de verdade, voltar aos hábitos saudáveis... Mas de repente a sua mulher gritou: - Véio, vem logo ver a novela e se babar fascinado por Maria da Paz, a dona do pedaço. Levantou-se e com passos lentos foi se render à novela. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/08/2019
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