Paciência com minha mulher

Não suporto "rush", mas, sabe como é, "quem nasceu para canga nunca chega a caçamba." E lá vou eu arrastado pela mulher, às compras. Cidade pequena, de praia, mas, sabe como é, época de verão... E lá vou eu no arrastão da mulher.

No armarinho:

- Olá Dona Jô! Como vai? E os filhinhos? Vai querer o quê?

- Botões!

- Esteja à vontade Dona Jô.

Os botões ficam expostos, à vista do freguês, sob o vidro do balcão. São várias gavetas. Cada gaveta dividida em vários quadrículos. Dentro de cada quadrículo contém um tipo de botão, o que dá um aspecto colorido ao balcão.

Minha mulher sai examinando superficialmente cada gaveta.

Algum tempo depois...

- É! Nenhum é igual a este que tenho aqui na mão. Pelo menos à primeira vista.

- Um momento, Dona Jô, que eu já vou ajudá-la.

A vendedora começa a retirar cada gaveta de sob o vidro do balcão. Uma a uma. Tira a primeira gaveta e ambas examinam os botões confrontando com a amostra. A vendedora a repõe no lugar e puxa outra.

- Este é igualzinho mas difere quanto aos furos. Este outro tem tudo igual, mas é lilás. Este aqui... quase igual, mas tem tamanho diferente.

- Não faz mal, D. Jô, vamos ver as gavetas das prateleiras!

Atrás da vendedora somente gavetas com botões! Idênticas às do balcão. Botões em gavetas para nenhum caminhão truncado botar defeitos. A vendedora pacientemente puxa a primeira gaveta da prateleira e a deposita sobre o balcão. Começa tudo de novo. Botão por botão, quadrículo por quadrículo, gaveta por gaveta. As duas – freguesa e vendedora – sempre alegres e tagarelas.

Muito tempo depois...

- É, acho que é deste! É sim!

- Quantos a senhora vai levar?

- Dois! Já tenho três, com mais dois completa a camisa do meu filho.

- Pronto! Mais alguma coisa? Linha, agulha...

- Não! Só isso mesmo. Obrigada!

- Até mais, D. Jô! Volte sempre! Lembranças às crianças!

E lá vou eu novamente no arrastão, para a loja de sei lá o quê...

Sempre paciente e acompanhando minha Jô por aquelas paragens, às compras.

De armarinho não entendia quase nada, mas de quartel sabia muito bem das operações "pente fino" e "agulha em palheiro."

Cá entre meus botões: Prefiro vender sorvete. Tasco duas bolas num casquinho e lá se vai o veranista se deliciando.

Edmilson N Soares
Enviado por Edmilson N Soares em 14/08/2019
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