Tá chovendo homem

O ano era... bem deixa para lá. Era um tempo em que os hormônios dos rapazes estavam explodindo, os cabelos cada vez mais longos e as ideias curtas. Os Beatles e Rolling Stones alternavam o primeiro lugar nas paradas de sucesso e a revolução sexual estava a pleno vapor.

É nesse cenário que os alunos adolescentes do Colégio Militar estavam inseridos. Com disciplina e regulamentos rígidos eles se sentiam pássaros presos numa gaiola e na contramão da história.

Só para dar uma ideia cada aluno tinha a sua caderneta de corte de cabelo que quinzenalmente tinha que ser assinada pelo comandante e mostrada no portão de saída do colégio. Não tinha escapatória. O nome do corte era "reco" - máquina zero e altura de quatro dedos acima da orelha.

Então ”J” o chefe da gangue acompanhado de Mesquiranha, Zé Minhoca e outros aloprados bolaram um plano para fugir da revista de cabelo e escapar do colégio. Como? Pulando o muro que cercava todo o colégio é claro!

Tinha que ser rápido, pois os soldados faziam guarda próximo ao muro.

J silenciosamente fez o sinal de avançar com as mãos e todos jogaram malas, quepes e outros acessórios pelo muro e pularam em perfeita sincronia para a Rua Barão de Mesquita. Detalhe: tinha uma feira acontecendo naquele final de manhã e a mulherada estava voltando com as sacolas cheias de compras caminhando rentes ao muro alheias ao perigo iminente.

Resultado: mulheres surpresas e apavoradas gritando tá chovendo homem, tá chovendo homem. Os alunos esparramados no chão misturados com pés alface, cenouras e leguminosas. Numa risadaria só J, Zé Minhoca, Mesquiranha e demais imediatamente se levantaram e sumiram em milésimos de segundos pelas vielas próximas.

A missão, apesar do imprevisto, tinha sido plenamente vitoriosa.

Rogério Vianna
Enviado por Rogério Vianna em 13/08/2019
Reeditado em 14/08/2019
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