Panelas Rochedo
A Tilia, ah a Tilia...! Viveu coisa de noventa anos. A caçula das filhas de Vovó Inhana - da filharada que sobreviveu, Tia Lia tinha os remanescentes de uma boniteza difícil de esmaecer com o passar do tempo. Mas não dava muito papo sobre esse assunto. De papo já se livrara cuidando de uma tireóide que, se não sarou, estabilizou-se sem sinais exteriores. E a rapaziada daquele tempo que a cortejara e que também envelhecera, ou enviuvara, parecia nutrir esperanças imorredouras. Mas Tilia era caprichosa. Mais amor e menos confiança era o que ela dizia quando a sobrinhada fazia menção de a abraçar.
E o capricho se mostrava particularmente agudo nas suas observações, assim como no trato com os vendedores ambulantes, ou cavalantes, que apareciam oferecendo seus produtos. Sua dúzia, por exemplo, era de 13, pois fazia questão de experimentar tanto as laranjas campistas do velho Ocride, quanto os maimelo do Vicente Celestino da Onça, cujo pregão, ainda que num fiapinho de voz, soava mais doce do que o inesquecível vozeirão de seu homônimo, em permanente ebriedade...
Mas o dia em que apareceu um matuto vendendo panelas e caçarolas de alumínio, sem embalagem ou rótulo, de sua janela, que dava pra rua, Tilia, cuidadosa para não baloiçar os brios do ambulante, obtemperou:
- Ah, eu gosto é de panelas Rochedo...
O moço, se chegou a tocar a aba do chapéu de feltro, surrado, para a janeleira eu não sei, mas dali pra frente, aprumou a cabeça e começou a apregoar, em empostada voz:
- Óia as panela Rochedo!!!