Concreto

O prédio era velho, pintura descascada, num bairro decadente da cidade. Com seus quinzes andares e apartamentos minúsculos, parecia quase um pombal. Sob as janelas com esquadrias de alumínio, varais extensíveis secavam a roupa que não tinha espaço nem vento para ser estendida do lado de dentro. Alguns apartamentos possuíam aparelhos de ar condicionado à mostra, uns antigos, outros mais recentes, do tipo split. Em quase todos, antenas parabólicas para TV digital apontavam seus pratos para o alto.

Li Chun encontrou-se com o proprietário do apartamento que iria ver, na recepção do edifício. O homem, um comerciante chamado Gao Lim, apertou sua mão efusivamente; parecia que interessados no imóvel eram raros.

- Havia um outro rapaz que ficou de ver o apartamento - declarou Gao Lim, enquanto se encaminhavam para o elevador. - Mas eu disse que você tinha precedência.

- Muito grato, senhor Gao.

- Não precisa agradecer - replicou o homem, apertando o botão para chamar o elevador. - Ele me disse que estava para ser despejado do local onde morava... você, ao menos, tem emprego fixo!

Então, era essa a diferença entre ele e o outro candidato, pensou Li Chun, enquanto embarcavam na pequena cabine de paredes riscadas e chão gasto. Subiram, sacolejando.

- O senhor falou em um mês adiantado? - Indagou Li Chun.

- Eu deveria ter pedido dois, - ponderou Gao Lim - mas estou interessado em alugar rápido. Você pode ficar, pagando um mês. O aluguel vence no dia 10.

- Certo - aquiesceu Li Chun.

Desceram do elevador no sétimo andar. O corredor era escuro, uma ou mais lâmpadas queimadas. O comerciante abriu a porta do apartamento, que era de frente para a rua, e bem iluminado. E pouco mais se poderia falar em prol do imóvel de quatro cômodos; o papel de parede desbotado, estava descascando, na sala e no quarto.

- Se ficar com ele, terá que me devolver pintado ou colocar outro papel de parede - advertiu o locador.

- Eu mesmo posso pintar - avaliou Li Chun. - Não é grande.

- É só para você? - Inquiriu Gao Lim.

- Só para mim - redarguiu Li Chun. - Mas o senhor havia falado sobre uma área comum... onde fica?

- Ah! - Replicou Gao Lim, um sorriso iluminando o rosto. - Você vai gostar!

Saíram do apartamento e pegaram novamente o elevador. Desceram no 15º andar e o locador o conduziu por um lance de escadas, que desembocava no teto do prédio. A área não era grande, e apresentava um telheiro num dos lados e um espaço vazio do outro.

- É aqui... você pode subir para tomar um sol... e apreciar a paisagem! - Declarou alegremente Gao Lim.

Li Chun olhou ao seu redor. Até onde a vista alcançava, um mar de concreto de prédios decadentes, espetados por antenas de TV, varais extensíveis, e no alto de alguns deles, espaços como aquele, onde alguns moradores criativos haviam colocado vasos de plantas, crianças pulavam corda ou andavam de velocípede, enquanto mães e avós estendiam a roupa em varais improvisados.

- É bonito - admitiu Li Chun.

- Eu lhe disse - retrucou triunfantemente Gao Lim.

- [12-08-2019]