Um Dia, Um Mês
Normalmente quando se acorda os pensamentos vão se formando para conduzir o indivíduo na sua vivência vindoura daquele dia.
Hoje ele acordou como de costume, no entanto a atmosfera lhe demandou alguma atenção peculiar. Não se tratava do clima, absolutamente normal para a época cíclica do ano. Nada havia de especial na data em si, o único significado possivelmente particular era que se completava trinta dias que experimentava o seu grau de independência legítimo.
Mas isto era para ser memorado todo dia, pois o valor do tempo não se submete ao rogo da cronologia. Era o símbolo que lhe saltava à fronte quando se viu diante do espelho no início do dia, a linguagem não verbal de que foi inundado pelo reflexo da pessoa que, ao fitar, trouxe as lembranças de um período de circunstâncias fora do comum.
Havia um mês que a sua neta de quatro anos, numa visita corriqueira, assumiu a posição simbólica de quem o resgatou por entre as araucárias. Havia um mês que alguém decidira lhe soltar os grilhões. Havia um mês que ele pode olhar para a vida com exatamente o mesmo olhar, mas com o caminhar recuperado. Havia um mês que ele pode vislumbrar o amor sob nova perspectiva. Havia um mês que, já escurecido, o dia mostrou o renascer de um novo brilho.
E foi para casa.