A ciumenta
- Você, Roberto, olha para todas as mulheres, na rua; delas não tira os olhos.
- Eu não olho para outra mulher. Ju, tenho olhos só para você. Você é muito obcecada. Você acha que eu olho para todas as mulheres.
- E não olha, não?
- Não. Não olho, não.
- E hoje à tarde, hein!?
- O que aconteceu hoje à tarde? Onde?
- Na frente da loja ***.
- O que aconteceu lá? Não olhei para nenhuma mulher.
- Não?
- Não. Olhei para alguma mulher? Que eu saiba, não.
- E a bonitona?
- Que bonitona?
- A de bicicleta.
- Que bonitona de bicicleta? Você está se referindo àquela loira, um pedaço de mal caminho, de um metro e oitenta, pés pequenos, coxas grossas, com uma cicatriz na coxa esquerda e duas manchas pequenas, uma, na ilharga esquerda, uma, na coxa direita, e de lábios realçados com batom vermelho fosco, cabelos compridos presos com uma tiara preta, unhas esmaltadas de vermelho framboesa, e com pulseiras multicoloridas iridescentes nos dois braços, usando camiseta branca com estampa da Scarlet Johansson, e short azul marinho bem agarrado com estampas de personagens de desenhos animados japoneses, e chinelos-de-dedos azuis com adornos em forma de flores, tendo uma tatuagem no ombro esquerdo, atrás, de uma borboleta azul, vermelha, amarela e verde, e um piercing na sobrancelha esquerda?
- É. É a ela que estou me referindo.
- Confesso, querida: Eu a vi. Olhei para ela, mas nela não prestei atenção.
- Não prestou atenção!? Não prestou atenção, canalha, naquela mulher!?
- Não, ciumenta. Nela não prestei atenção. Eu apenas atentei para o short que ela usava. Que mal há em olhar para um short? Eu queria ver quais os personagens no short estavam estampados. Você sabe que eu gosto de personagens de desenhos animados japoneses.