*Visita médica

Visita médica

É sabido que homem só vai ao médico, quando já está na hora de morrer.

Tive um amigo cuja alma, lamentavelmente, subiu para o andar de cima, enquanto seu corpo foi levado para o andar de baixo, pois teve a sorte de enfartar dentro de um hospital e, só por isso, sua partida não foi antecipada.

Eu estou no grupo dos que vão ao dentista duas vezes por ano, para ouvir aquele barulhinho da broca fazendo túnel e colocando ponte. Mas felizmente, isso não me aflige. Só muito raramente é que procuro outro tipo de atendimento.

Eu ainda morava em Teresina, quando, certo dia, tomei a decisão de procurar uma clínica, não sei mais por que razão. Marcada a consulta, compareci bem antes da hora especificada.

Na clínica, não havia nenhuma outra pessoa e a atendente me disse que, quando o paciente saísse, eu poderia entrar. Isso demorou cerca de quinze minutos que, pra mim, foram intermináveis.

Sentei-me, cruzei a perna esquerda por cima da outra, para ficar mais bem acomodado e esperei. Logo, começaram a chegar novos clientes, mas todos calados, ninguém trocava uma palavra sequer.

Quando aporta abriu, o médico chamou:

– O próximo!

Era eu. Só que, quando me levantei, senti uma câimbra tão forte na perna que estava cruzada, que tive que utilizar as duas mãos para colocar o pé no solo.

Da sala de espera até a sala do médico, havia um degrau de vinte centímetros, que

eu tive que fazer um esforço hercúleo para subir.

Senti que todas as pessoas começaram a me olhar com extrema apreensão, especialmente a atendente que me vira chegar ao consultório sem nenhum problema aparente. Parecia que eu estava com um peso de uma tonelada sobre o pé, subindo o Monte Evereste. A perna formigava ininterruptamente, de forma que eu a sentia como se tivesse aumentado de volume.

Quando, finalmente, consegui entrar no consultório, o médico me perguntou, bastante preocupado, pois aquilo não era de sua especialidade:

– Rapaz, pelo amor de Deus, o que te aconteceu?

– Foi nada não... Mas vá se preparando para me dar 50% de abatimento nessa consulta, pois esta câimbra irá passar e seus pacientes lá fora, obviamente, vão concluir que fui curado neste atendimento.

Contei-lhe, então, o caso e os motivos daquela câimbra. Fui atendido e medicado Na saída, todos os que me viram entrar para o atendimento, ficaram ainda mais abismados. Eu estava completamente curado, sem qualquer sintoma de problema ortopédico...

Olhei para o médico e lhe disse:

– O senhor está me devendo essa!

Estava feito o maior merchandising da história da medicina...

São coisas que só acontecem comigo.

Aracaju, 28/ 07/ 2019