CAPIM GORDURA...

Capim gordura...

(conto)

Em uma pequena cidade do norte do Paraná, com aproximadamente 30 mil habitantes. Na periferia da cidade morava Luzia Capim Gordura: ou (Luzia da vara). Luzia tinha uns 40 anos. Era uma solteirona.

Ela fazia a alegria dos mocinhos adolescentes, dos rapazes e até dos senhores casados de quase toda cidade... Nos arredores da cidade havia algumas fazendas que deixavam crescer um capim bonito, muito dourado. Parecia brilhar com o sol, parecia estar untado com gordura. Era o Capim Gordura. Era nesse cenário que Luzia (dava) “expediente”. Dai surgiu-lhe o apelido (Capim Gordura). Esse apelido deu-se devido à coincidência que havia entre a cor do pendão dourado do capim ao sol, em contraste com o cabelo loiro dourado dela.

Contava-se pela cidade algumas lendas de que ela teria sofrido uma desilusão amorosa. Outros diziam que ela teria ficado viúva, outros diziam ainda que ela teria ficado meio desorientada porque gostava de um padre que havia na cidade, porém não foi correspondida. Ela mesma se dizia viúva do tal padre que ela gostava. Outros comentavam que ela só preferia homens casados. - e que ela jurou tornar-se uma mulher “namoradeira” que queria só se divertir, - sem compromisso de se envolver seriamente com seus eleitos. Ou com qualquer homem.

Por onde ela passava as mulheres todas (se benziam), apontavam-na e chamavam as outras para virem ver, proferir-lhe insultos, xingar e até mesmo pegavam vassouras para a agredir, censurar. Alegavam que ela não deveria misturar-se às outras senhoras honestas. Os moleques da rua por sua vez assoviavam, gritavam, corriam atrás dela, jogavam bolinhas de mamona nela. Ela, para se defender andava com uma varinha de bambu, daí também o apelido de (Luzia da vara).

Ela queria mesmo era ser “falada” na cidade. Só assim seria lembrada por todos. E quem quisesse falar dela podia falar mesmo à vontade. Já que ela não teve a sorte de ser correspondida pelo seu bem amado. Ela não tinha um emprego, ou um trabalho comum, porém, sempre estava com dinheiro, bem vestida, cabelo muito bem arrumado, roupa da moda e sapatos caros, pintada e muito perfumada. Freqüentava boates bailinhos, restaurantes. E cinema.

Entra em cena o cego Belchior e o cachorro Jiló, seu cão guia.

Belchior salva Luzia de ser agredida por várias beatas da cidade. Nisso o cão Jiló tem um papel importante.

Em uma manhã chuvosa aconteceu algo trágico. Luzia foi agredida por um grupo de (06) beatas, falsas moralistas, agredindo-a sem piedade. Armadas com paus, pedras e cabo de vassourara, exigindo que ela fosse embora da cidade. Foi quando, passando pelo local, estava o cego Belchior, e Jiló, seu cão guia.

O cachorro era manso, mas nesse dia, diante desse fato, ele latiu incomodado, e partiu para o ataque em direção às agressoras. Luzia gritou pedindo socorro. Diante disso, o cego Belchior reagiu... Belchior era cego do olho direito, e com o esquerdo ele só tinha 15% da visão. Ele saiu em defesa de Luzia e a defendeu evitado um mau maior. Com ajuda do seu cão fiel, ele afastou aquelas mulheres, deixando Luzia em paz.

Luzia ficou ferida, mas foi medicada e logo se recuperou. Belchior tinha 42 anos, era um homem louro, alto, usava barba longa, desalinhada, andava também mal vestido, era meio andarilho. Por isso era mal visto e discriminado pelo povo da cidade. Ele era de uma família de condições financeiras medianas, ali mesmo na região. Sua família era dona de uma pequena fazenda nas proximidades.

Depois desse acontecimento, Belchior e Luzia Capim Gordura, voltaram a se encontrar. Ela o abordou, para agradecer-lhe, por ele a ter salvo daquelas agressoras. Ficaram algum tempo, ali a conversar, e aí nasceu um interesse mútuo, um pelo outro. Então, iniciou-se a partir daí um relacionamento amoroso. Naquela cidade todos o discriminavam, somente por sua condição de cego, mas também pela sua aparência e seu jeito simples e desleixado de ser e de se vestir. Apesar de ele ser uma pessoa simples, mas de boas condições financeiras.

Ela já o conhecia de vista, mas nesse dia o acaso os aproximou. O cachorro Jiló era um vira latas, não era um cão guia, mas era muito apegado ao dono, mesmo porque Belchior precisava de sua companhia, pois só enxergava com uma porcentagem da visão. Ele estava sempre a acompanhar seu dono. Depois desse episódio, Belchior passou a se cuidar, tirou a barba e já se vestia melhor. O relacionamento de Luzia e Belchior foi se estreitando cada vez mais, então as pessoas maldosas sempre os criticavam dizendo: - É..., toda panela velha sempre encontra sua tampa! – A Capim gordura agora arranjou um cego! – Só sendo assim mesmo! Pois, se ele é cego não vê o que há de errado nela!

- Parece até que agora a Capim gordura finalmente vai desencalhar! Outros diziam: - Estão dizendo por aí as más línguas que já estão de casamento marcado! - Pois é!...Tomara mesmo que ela se case, só assim, ela deixa os outros homens em paz!...

Estavam mesmo. O cego Belchior e Luzia Capim Gordura decidiram se unir, só não quiseram realizar uma cerimônia de casamento. Mas resolveram ficar juntos. O cachorro Jiló acabou sendo o cupido e testemunha dessa união. Assim selaram um bom final para essa história de rejeição e intolerância.

Texto protegido pela lei nº 9.610/1998. Registro no Escritório de Direitos Autorais/ RJ. Campo Grande MS, 13/02/2019. Arnaldo Leodegário Pereira.

Arnaldo Leodegário
Enviado por Arnaldo Leodegário em 13/02/2019
Reeditado em 22/08/2022
Código do texto: T6573826
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