Giros da vida
Não era um bom dia para Alex Frost. Desde que chegara ao cassino e começou a apostar, só perdera. Começou nas máquinas caça-níqueis. Perdeu. Foi para a mesa de Blackjack, o popular 21, perdeu também. Por fim, tentou a mesa de pôquer. Onde também perdeu! Em poucas horas, Frost perdeu 15.000 reais. Todo seu dinheiro do seguro-desemprego. Sim, Alex Frost estava desempregado, recém-divorciado (a mulher o largou quando ele perdeu o emprego) e agora mais duro que pedra de granito. Sobraram-lhe 200 reais na carteira. Mas este dinheiro teria que durar um mês. Quase uma missão impossível. Jogar é fácil, mas ganhar dinheiro com o jogo, não. “Maldita hora que reabriram os cassinos no Brasil!”, pensou Frost socando uma mão contra a outra. Saindo do cassino da Urca, às 22 horas, Alex Frost decidiu voltar para casa, no Flamengo, a pé. Frost era maratonista amador, e a corrida o ajudaria a tentar esquecer a malfadada ida ao cassino. Após quatro quilômetros de corrida, o economista chegou, finalmente, a seu apartamento na rua Senador Vergueiro. Abriu a porta da entrada do apartamento 501 mais aliviado. A acorrida fez bem a Alex Frost. Foi direto para o chuveiro. Tomou um banho quente demorado e após se vestir rapidamente foi para cozinha mastigar alguma coisa. Quando abriu a geladeira, a decepção tomou conta do economista: só havia água e manteiga! “Merda! Não é possível! Nada pra comer!”, gritou, irritado, Frost. Desesperado o economista foi olhar a despensa. “Tem que haver algo para comer. Vou achar...” Depois de tanto procurar Alex Frost, enfim, achou… um pote de… achocolatado. Comeu quase todo o conteúdo do pote. Escovou os dentes, tomou um copo de água e foi assistir à TV. Já eram três da manhã quando foi dormir. “Amanhã é um outro dia. Pior que hoje? Impossível!”, filosofou o ex-analista júnior do Banco de Investimentos Azizaf segundos antes de cair no sono.
Alex Frosr acordou às nove horas da manhã. Dormiu pouco, mas o suficiente. Vestiu-se apressadamente e saiu. Precisava comprar comida de verdade. Duzentos reais para passar um mês, ou seja, Frost só poderia gastar 6 reais e 66 centavos por dia! É muito pouco! O economista foi ao supermercado. Comprou pão, frutas da época e leite. Gastou 10 reais. Mas comeria uma comida decente. Quando estava chegando a seu prédio, uma linda mulher o parou. “Um bilhete da loteria federal por 3 reais! Compre senhor, o resultado sai hoje! O senhor vai ganhar!”. Alex Frost parou, olhou para a bela loira de olhos azuis, à sua frente, que mais parecia uma modelo do que uma vendedora e riu. “Eu gostaria muito de ajudá-la, senhorita, mas estou sem dinheiro...” disse o economista recomeçando a andar. A vendedora não desistiu. Insistiu. E tanto insistiu que o economista comprou o bilhete já sabendo que não ia ganhar. A probabilidade de ganhar num sorteio de seis números é muito pequena. E de probabilidades Alex Frost entendia. Dito e feito. Frost não ganhou. Precisando de dinheiro o economista voltou ao cassino. O lugar do qual era habitué, desde sua fase de vacas gordas na profissão de analista júnior do Banco de Investimentos Azizaf, estava cheio de gente em busca de dinheiro fácil. Mas, no final do jogo, a banca sempre ganha. Desesperado o economista foi apostar no único jogo que podia ajudá-lo a se levantar ou levá-lo à ruína de vez: a roleta. Apostou 100 reais no número 3. Apesar do 3 ser seu número de sorte, saiu o número 13 e Frost perdeu tudo. Agora tinha apenas 87 reais. Sua sorte é que todas as suas contas estavam pagas neste mês. Mas, no próximo, ele ia ter que fazer das tripas coração para pagá-las. Oitenta e sete reais. Ninguém lhe daria dinheiro. Nem parentes, nem amigos. Ninguém…
No dia seguinte, uma quarta-feira de calor intenso, Frost saiu de casa e foi até um sebo. Procurava um livro de como investir em ações. Alex Frost era economista, mas não tivera uma matéria específica de como investir em ações na universidade, um conhecimento que também nunca lhe foi exigido no trabalho de analista bancário. Uma lacuna que seria agora preenchida pelo livro. O economista comprou o livro de Jota Telhudo, um ricaço excêntrico, atraído pelo título “Milionário num instante” e pelo preço: 20 reais. Alex Frost devorou o livro quase sem parar. Leu as trezentas páginas do manuscrito da primeira à última linha durante o dia todo. O livro ensinava os tipos de ações (preferenciais e ordinárias) e a calcular o risco e o retorno da aplicação em ações de modo simples e eficaz. Não tinha erro. Era só seguir os conselhos de Jota Telhudo, usar os conhecimentos econômicos adquiridos ao longo da vida e correr para o abraço (ficar rico). Já tinha raiado o dia de uma quinta-feira que prometia ser abafada, quando o economista foi até o banco pedir um empréstimo de 10.000 reais. Deu como garantia, ao gerente do banco, seu apartamento no Flamengo. “Para ganhar dinheiro é preciso gastar dinheiro”. Pensou o economista sem se lembrar do autor da frase. Frost pegou 5.000 reais e comprou ações na Bolsa de Valores escolhidas a dedo segundo as dicas do livro. No dia seguinte a surpresa: suas ações se valorizaram 30%! Isto significa que ele ganhou 1.500 reais num dia! A partir deste dia, Alex Frost virou um “Home Broker” um investidor de ações. Descobriu que o melhor jogo para se jogar é aquele que não depende só de sorte, como os jogos de azar, mas de inteligência, competência e “feeling” (instinto). Aos poucos, Alex Frost se reergueu. Posteriormente, casou-se com a bela vendedora, Suzane Ristedd, aquela mesma que lhe vendeu o bilhete da loteria federal quando ele estava numa maré de azar. Nada ocorre por acaso. O encontro do economista com a vendedora foi o gatilho de uma série de acontecimentos que levaram Alex Frost voltar a ser alguém na vida, um investidor de sucesso e não um idiota viciado em jogos de azar.
FIM