Sonhos Perdidos
Mal havia o dia amanhecido e ela já estava de pé e um tanto ansiosa, aquele era o dia mais importante da sua vida e talvez o mais inesquecível de todos, embora desconhecesse os percalços que viriam logo à frente.
A jovem Elisa cursava o último ano do ensino médio e se preparava para prestar vestibular para uma renomada universidade, seu maior sonho era cursar medicina. Ela sabia do quão difícil e concorrido seria, mais sua coragem jamais a fez sequer pensar em desistir. Noites de sono perdidas, eventos familiares, passeios com os amigos, enfim, deixou por completo sua vida social por algum tempo para que pudesse se dedicar ao seu sonho. Filha de empregada doméstica, família simples, conhece bem de perto a realidade dura da vida, apesar de nunca ter conhecido seu pai e das dificuldades que levava no dia a dia, não deixou-se abater e seguiu firme em busca de seus objetivos, queria proporcionar uma vida melhor para sua mãe e ao mesmo tempo se realizar profissionalmente.
É chegado o dia da prova, Elisa esta aflita e ansiosa, anda de um lado para o outro em seu pequeno quarto.
- Calma menina, desse jeito você vai acabar esquecendo tudo o que aprendeu se ficar nervosa desse jeito – disse a mãe de Elisa.
- É o dia mais importante da minha vida mãe, nada pode dar errado. É a nossa chance de mudar de vida.
As horas passaram e já era hora de ir para o ponto de ônibus. Uma forte tempestade se armava do lado de fora.
Depois de algum tempo no ônibus, Elisa desceu no local mais próximo ao local onde ia fazer a prova e notou que havia esquecido algo.
- Droga, isso não.
Naquele momento um flashback lhe passou pela cabeça fazendo-o a lembrar que havia deixado seus documentos em cima de sua cama. Sua casa ficava um pouco distante do local da prova e retornar lá seria arriscado, talvez o tempo seria curto demais. Debaixo de uma forte chuva ela foi em direção ao ponto de ônibus e seguiu em direção à sua casa. As horas se passavam. No meio do caminho ela notou que cada vez mais o ônibus em que estava e carros à sua frente transitavam cada vez mais devagar e ouvia o barulho ensurdecedor das buzinas daqueles veículos que pareciam disputar um espaço cada vez maior na via. Elisa indagou a uma senhora que estava sentada ao seu lado na poltrona do veículo:
- O que está acontecendo lá fora?
- A chuva ta forte por demais moça, ta tudo alagado ali na frente, não da pra passar nada.
- Não, isso não. Eu tenho uma prova daqui a pouco, tenho que ir em casa pegar meu documento, eu não posso ficar aqui.
Elisa ordenou ao motorista que abrisse a porta do veículo para que a mesma descesse.
- Tem certeza que a moça vai enfrentar essa tempestade?
- Não é questão de querer moço, eu preciso ir.
Em meio às ruas alagadas e debaixo da forte chuva que caía, Elisa caminhava com dificuldade, ela tentava dar longos passos e até mesmo correr, mas era impedida pela força da água. As lágrimas de desespero que escorriam em seu rosto eram enxugadas pela água da chuva que lhe desciam pela face abaixo. Por um momento ela viu seu sonho indo por água abaixo. Tentou ligar para sua mãe, mas não havia sinal telefônico naquele momento. Sua casa ficava próxima a uma encosta e quando chegou ao local avistou o pior episódio que seus olhos jamais pensaram em presenciar.