Linhagem e galinhagem
As galinhas não dão trégua, senão quando empoleiradas. No correr do dia, que mal se inicia, é aquela faina disparatada. E mamãe, que já pensou em dar continuidade ao aviário de papai apenas num máximo de quatro ou cinco poedeiras, mais com o propósito de não dar quartel à escorpiãozada interminável que invade até sua imaginação, admite-se desacorçoada com a expansão, mais palpável, dos galináceos, capitaneados, claro, pelo galo Inácio, que pulula e pulula sem cessar...
Mano Beu, que é vizinho frontal e visitante contumaz, é que se compraz com a darwiniana lei da sobrevivência dos mais aptos e da evolução da espécie. Mas se rende a dar o milho e a água.
Os arranjos demais, particulares e gerais, ficam por conta de mamãe, que determina as assistências tipo bolsa-iluminação, bolsa proteção de gaviões e outras pestes, bolsa separação, bolsa coleta de ovos e os abates eventuais, que se terceirizam nas mãos expertas de um Zé Maria ou um Jandir, visitantes ocasionais tanatoterapeutas...
Inda há pouco, mamãe falava de suas preocupações com três "redadas" de pintos, quase simultâneas, de vinte e tantos nascituros, e dos necessários e trabalhosos cuidados para a sua criação, com a eleição de uma só matriz que não enjeitasse filhotes de outra mãe...
O prejuízo é certo, na relação custo-benefício, ela sentencia de forma judiciosa sedimentada em sua longa experiência no métier. Mas, que fazer agora se não cuidar...demais, o único galo está no viço e vício de suas forças e este, pelo menos, é mais maneiro do que seu antecessor, que chegava a arrancar penas nas suas ações amorosas destrambelhadas...
E enquanto vamos contabilizando verbalmente os prejuízos, é o Júlio César, doublé de assistente de pedreiro e de zelador do quintal que chega todo triunfante anunciando seus mais achados: duas novas ninhadas que perfazem 27 expectativas de eclosão de vida...