BOLINHAS DE NAFTALINA

Não saía muito. Preferia fazer suas coisinhas em casa, no sossego. Quem a quisesse ver que fosse até lá – além das vezes obrigatórias para levar seus remédios. Mas chegou o dia em que teria que sair de casa: ir ao banco fazer prova de vida para não perder o benefício da pensão do falecido. Só que o banco era lá em São Paulo porque ainda não dera tempo para transferir para perto da sua nova moradia, em Mauá. Aproveitaria e faria isso.

Viu na TV que o dia seguinte seria muito gelado. Foi até o guarda-roupas para dar uma olhada no seu antigo casaco. Fazia tempo que estava guardado. Para conservá-lo sem o característico cheiro de mofo, colocara bolinhas de naftalina nos bolsos. Pendurou o cabide no puxador da porta para que tomasse um ar até que saísse pela manhã. Antes de sair olhou pela janela e sentiu que precisaria mesmo vestir o casaco.

Estava enferrujada para usar o transporte público. Almas boas a ajudaram a embarcar no ônibus e no trem e a sentar no assento preferencial. Tudo estava indo bem; até se sentia feliz, apesar do esforço. A única coisa que estranhava é que as pessoas chegavam perto dela, olhavam e saíam de perto.

Rinaldo Saracco
Enviado por Rinaldo Saracco em 17/08/2018
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