O rapaz ( 1 )
Em cada canto da varanda uma gaiola.A velha na sala dormia; ou melhor tentava, que os trinca ferros, bem te vis, curiós, galos de campinas faziam uma sinfonia naquele espaço apertado.Um dia o rapaz pegou a furadeira, era o neto desconfiado e atrevido, e começou a furar tudo, em cada parede tres ou quatro furos, e pôs lá sem prévia consulta seu futuro ganha pão; mas dissera ele que não, que não, que aqueles pássaros engaiolados eram seu hobby.A velha, mais pra lá do que pra cá, aquiescia, talvez pra não contrariar e aborrecer. Era ela, já aposentada e cansada quem pagava as contas, que ele, o rapaz estava desempregado. Na casinha que construira pra ele não existia caixa de água o que fazia com que ele sempre precisasse ligar a bomba pra que a água chegasse na torneira.Assim no final do dia já teria ligado a bomba umas cinco ou seis vezes o que tornava a conta onerosa.A velha via mas fingia que não via que era pra não contrariar o rapaz e todos da família sabiam e calados ficavam que era pra não contrariar o rapaz.Anos se passaram desse jeito: vivendo entre um curió aqui, um galo de campina ali até que um belo dia uma operação da guarda florestal levou todas as suas gaiolas, deu-lhe uma multa e o rapaz teve que sair a procura de emprego. Por todas as empresas por onde ele passara arrumava problemas e não aceitava ordens e nem ser contrariado.Voltou pra casa e resolveu aprender a tocar bateria, entretanto ele tocava até depois das vinte e duas horas e incomodava quem queria dormir. Todos foram reclamar com sua avó, já que a mãe não gostava de contrariar o rapaz. A avó, uma sábia velha, ouvia, ouvia, ouvia e aquiescia, porque ela também não queria contrariar o rapaz. Ele entao abandonou a batera e adquiriu uma guitarra elétrica e fez com que o som metálico reverberasse por todo o bairro. Fez uma fila imensa no portão no outro dia, não pra pedir autógrafos ou tentar saber o nome do astro da guitarra mas pra reclamar do som estridente. A mãe, a avó, os primos, as tias, os tios, sobrinhos, todos chegaram ao portão e ouviram de todos os moradores a mesma reclamação a respeito do guitarista anônimo; então todos ouviram balançando a cabeça afirmativamente mas ao entrarem todos aquiesceram porque não poderiam contrariar o rapaz.
( continua no conto 2 )