Não teremos filhos! Definitivamente não!

Vazios de certeza em rios de ternura, mulher em cada gesto e fineza em cada vocábulo. Angélica me sorria, insistindo naqueles infundados desejos. Disse-me: Deveríamos ter filhos, Diego. Eu sabia que esse momento um dia chegaria. Não voltava atrás em manifestações de pensamento, insistentemente agredia-me com o olhar.

Angélica, o mundo, plano cartesiano de amarguras, solo insalubre não basta? A frieza invadia a sala e a fraqueza constrangia. A pequenez e visão da criança caberá nesse plano? A realidade, projeção convencionada, vai torná-las pobres e vaidosas. Não poderemos fazer nada. O mundo seguiu e sempre seguirá sem nós. Ter ou não um filho não mudará esse fato.

Singelezas reluziam no sorriso amedrontado. Os filhos eram, apenas, parte do problema.

A calvície lhe acometera e, pior, a sequência de fracassos sugam a autoestima. Poeta por vocação, ressignifica-se.

E se nós tivermos filhos? Como os educaremos? Quem vai educá-lo por nós?

A vida não é a projeção controlada de conferências e escritórios fechados, primeiro, a natureza aflora e atinge a consciência, em seguida, o amor molda-os. Isso me parece na verdade, muita poesia e pouca prática. E quanto há dinheiro? São muitas questões. Algumas são mais planejáveis que outras.

A lágrima, gota d´água incalculada, escorria em movimento de valsa pelos olhos da dama imaculada. Não, não chore. Eu não queria ser um canalha.

Quando as desandanças ressoam sobre os planos dos casais, a vida amolece e o tempo escancara os dentes. Resta-nos a estética. O ter sobre o plano do ser. Continuidades resvalando em sequências de nada.

Bênçãos? Não sei. Nunca fui muito de acreditar. Contraponto bárbaro. Elevara os olhos aos céus, rompendo aquele jeito servil de rogar, aproximando-se como quem integra a família do divino. Sagrada família, família Addams, família Simpsons, tudo parecia uma série de coincidências esparramadas em meio a confortável casualidade, destituída de vidas confiadas.

E a formação moral? Cidadã? Quanto mais críticas insurgiram frente ao desejo e iminente declaração, mais dores desvelavam-se. Não entendo porque você continua chorando. É tudo especulação, ainda estamos juntos. Pelos fortes braços, terás todos os abraços desejados. De fato, o pobre coitado era alheio ao gestual profético febril e sacro…

É que está iminente.

Imi… o quê?

A época natalícia anunciava o encoberto. Tempos remotos, quiçá, de terremotos.

Há vidas que escorrem pelas mãos, há vidas decididas por outras mãos, mas há vida gerada…

Pilatos, José, finalmente quem és? Diego, não lhe basta?

Mais! Caminhos opostos numa caminhada insana de um companheirismo forjado pela insanidade dos dias.

Definitivamente. O ser ou não ser, ia dando lugar a significar história nova. Significar vida e legislar sobre ela. Ser estado, poder, ausência e profetas. Sol poente, sol nascente. Encerramentos, inconstância, tempo encerrado por transições, mãos e máquinas. Reféns do tempo, da mão humana e do subdesejo.

O abraço sela o pecado original e os medos atemporais.

É iminente.