Respeite a minha cor
Um certo dia, um casal estava a conversar sobre a vontade que ambos tinham de ter um filho, entretanto, por problemas de saúde, o homem acabara por ser estéril e a mulher não tinha possibilidade de engravidar, diante da situação e depois de muita conversa, acabaram por decidir adotar uma criança, marcaram um dia e foram ao abrigo mais próximo “escolher” uma criança.
Passado alguns dias, eles vão fazer a visita ao abrigo “Sorriso de amor” e como já era de se esperar, são apresentados a eles as crianças que são preferíveis ou mais fáceis de ser adotas, de pele branca, olhos claros, cabelo liso, aparentemente sem qualquer “defeito” (como se você estivesse escolhendo um produto ou um brinquedo). Mas contra todas as expectativas, a mulher se encanta por uma menina que nem sequer foi apresentada, que estava sentada em um banco no jardim, com um caderno sobre seu colo e enquanto simplesmente observava as flores, ela ia escrevendo, a mulher então aproximou-se e disse:
- Oi florzinha, como você se chama?
Ela muito envergonhada e meio sem jeito disse:
- Eu... Eu... Eu me chamo Cielo.
- Gostaria de fazer um passeio?
- Sim, vou te mostrar o meu mundo.
Depois do passeio, a mulher ficou encantada com a menina, e decidiu que ela era a escolhida, claro que ainda assim, insistia-se que ela pensasse melhor, mas muito segura de si, ela disse:
- É aquela criança, eu sinto.
O marido também sentiu certo apreço pela menina e concordou com a decisão, deram entrada no pedido, durante esses longos meses em que se passava o processo, frequentemente eles iam ao abrigo visitá-la, faziam passeio, e aquele sentimento só crescia, superando qualquer possível adversidade, e durante esse tempo o caderno da garotinha tinha cada vez mais suas páginas preenchidas por belas poesias. Chegou o dia, a decisão saiu, e eles conseguiram a guarda, eram agora os pais legítimos daquele anjinho e estavam indo a buscar, quando deram a notícia, Cielo não se conteve de tanta felicidade, abraçou todas as outras crianças e desejou do fundo do seu coração que aquele dia chegasse para todas elas, já que para ela, que era praticamente impossível, ele chegou, e quando estava para sair, ela arrancou uma página do seu caderno e entregou a pessoa responsável pelo abrigo, onde dizia o seguinte:
Eu sei que você me ama muito
E sempre me privou, não por não querer que este dia chegasse
Mas por medo de eu não ser a escolhida
A sua “menina bonita do laço de fita”
Mas sei que você percebeu
Que eles eram diferentes
E viu neles o verdadeiro amor
Sem dizer “respeite a minha cor”