DES-CONECTANTO HISTÓRIAS
Uma caixa ambulante de ferro:
Assim se resume minha
volta para casa após um dia
inteiro grudado num
pequeno aparelho preto capaz de me conectar a
milhares de pessoas num piscar de olhos, ou melhor,
num apertar de teclas, um
pequeno instante e um
ousado “alô!”.
18h20 da noite, ao findar
o dia, todos querendo
chegar em casa. Pessoas
totalmente desconhecidas
compartilhando o mesmo
espeço, uma lata de ferro.
Um lugar onde centenas de
milhares de histórias se
cruzam diariamente. Mas
separadas e desconectadas e
esquecidas pelo simples ato de usar
um pequeno instrumento de,
aproximadamente,
um metro de comprimento,
com um pequeno pino de
metal numa ponta e dois
minúsculos alto-falantes na
outra extremidade, que ao
conectá-lo ao celular, Bah! A
festa é sua...
E assim, histórias cruzadas são
somente, e tão somente, Histórias cruzadas...
Eu, como de costume,
observando o movimento,
a situação, as pessoas, os
trilhos pela janela, o chão
cinzento e sujo e algumas cascas
de balinhas no chão, o banco
preferencial ocupado por um
rapaz fora da cota, sendo
ferozmente destroçado por
uma senhora de uns 74, que o
olhava com desprezo por não
lhe ceder seu lugar e um “carinha”
sentado no chão por falta de
assento... Algumas janelas
abertas e um ventinho
gelado me passando
vagarosamente pelo rosto...
sensação de liberdade!!! Essa
era a visão que eu tinha, tudo aquilo
que prestei atenção.
Claro, também eu estava
grudado no meu celular
ouvindo, com os fones no
ouvido, minha música, de momento preferida, Luz que
me traz paz, da Maneva...
passaram-se as estações e
logo, como num piscar de
olhos, chegou minha vez de
descer. Já era a de Sapucaia do Sul.
Desci e fiquei observando a
correria das pessoas para
chegar primeiro à escada
rolante... Demais! Parecia a
corrida de São Silvestre se
aproximando dos seus
metros finais... Desprezando
aquela situação, parei, pensei
e refletir: trabalhamos para viver ou vivemos
morrer? Bem, não fez muito
sentido, mas a questão
estava lançada. E agora?
Questionei-me. Fico mesmo
esperando todo esse alvoroço
acabar e depois seguir até
minha casa ou entrelaço-me no
meio de centenas de
Histórias, agora distanciadas
pela correria de chegar
em casa ou simplesmente
pegar um bom lugar na filar e
conseguir um lugar
desconfortável no ônibus que
nos conduzirá até nossas casas?
Não sei! Já que não queria fazer parte
de um emaranhado de
Histórias desconexas, resolvi esperar.
Queria sim, viver aquele momento,
mas apenas contemplando o
Objeto humano criado
por uma sociedade
desumanizadora de histórias...
Dessa forma, concluir: a Trensurb pode até
conectar destinos, mas
Histórias, nem que a Terra
Fique quadrada de novo....