Sandice com sanduíches
Os tempos andavam brabos, apesar do Governo Jango haver dobrado o valor do mínimo. E, embora papai e mamãe continuassem empregados na Cia de Tecidos Pitanguiense, a fapa, a família crescia de mãos dadas e atadas com a fome.
Dai, não foi difícil imaginar uma solução alternativa para a nossa bóia, idéia da mana La Toya: ao invés do trabalhoso almoço cozido, íamos passar a nos nutrir de sanduíches. E todo universo infanto-juvenil que éramos, éramos vidrados, siderados e tresloucados com sanduíches.
Quando tia Lia, nossa vizinha, falava de suas idas ao Pará de Minas para comer sanduíches de pernir na redoviara, a água na boca sinalizava - mas não finalizava - nossa tara por essa divina iguaria. E agora, iríamos contar com ela praticamente todo santo dia!
E o primeiro dia foi aquela pura orgia: chegar esfaimado do ginásio e encontrar, já preparado aquele pão de sal de ovo frito e queijo recheado...ali, por certo, a gula - que a fome açula - nem era pecado. Divino, abençoado.
E já se antegozava a degustação gourmética do dia seguinte. Que veio. E não fez feio. Sem contudo ser aquele insólito enleio...Vinde, comei-o.
Antes que se completasse uma semana daquela revolucionária nouvelle cuisine, entretanto, os sinais de enfaro se acentuaram de tal forma que tivemos que voltar ao cardápio da antiga norma. Carne, arroz e feijão não é que era danado de bão?