SUITE DE CABOCLO
Colchão de palha sobre os cavaletes.
Lamparina no canto da parece sobre um suporte em forma de triângulo.
No alto da parede as pontas de bambus desde o dia do barreado.
De um lado do quarto um guarda roupa quase preto, antigo, com espelho quebrado.
No outro canto do quarto um oratório com muitas imagens de tamanhos diversos. A maioria quebrada. Falta cabeça numa, braço na outra, perna em um tanto, nariz em várias...
Em cima do pires velho e sujo, uma vela amarelada pelo tempo, só para ser acesa aos santos.
Nos pés da cama feita de cavaletes, uma canastra com sapatos, botinas, laço, rebenque, chicote, tudo feito de couro puro e cru.
Atrás da porta um pôster de Carmem Miranda já todo embaçado.
O chão de terra batida e muito bem batida jogadas pelos cantos, muitas embiras, para amarrar as barras da calça de manhã cedo logo depois de se levantar.
Em baixo da cama um pinico esmaltado branco.
Cobertores feitos de panos velhos chamado de colchoado.
Ao mexer na cama, o barulho das palhas atingia o casebre inteiro.
Na parede um prego grosso e nele uma cartucheira de dois canos pendurada.
Em um embornal encardido um pouco abaixo noutro prego desolado, munição de sobra ali estancada.
Mais ao lado numa mesinha, uma faca peixeira na bainha e um facão bem amolado. Um pedaço bom de fumo de rolo, algumas palhas macias e um canivete laminado.
No canto da cabeceira da cama, no chão meio empoeirado, dormia Samuca, um cão ensinado.
À medida que a luz prateada ia subindo na imensidão do universo, as frestas de luz iam entrando pelo telhado com telhas de bica, e atingindo as paredes do quarto, iam clareando o velho quadro do Sagrado Coração.
O mais era ronco puro daquele caboclo arrojado naquele sertão.
Assim era o quarto de Jorge Marcondes.
Acredito que ele não era muito diferente!
É isso aí!
Acácio Nunes