HOJE É SÁBADO, PAPAI?

Abelardo era peão, trampava na conservação da BR. Dias de sol, dias de chuva, lá estava ele. Em casa, seu filho unigênito ganhou uma bicicleta velha e desengonçada do primo da capital. Pneu dianteiro furado e catraca ressecada e sem corrente. Sem tempo durante a semana o pai disse que no próximo sábado consertaria a magrela. Todo dia, quando acordava, o filho, alegre mesmo depois de uma mamadeira sem Toddy nem bisnaguinha, lhe perguntava: Hoje é sábado, papai! Enfim, sábado era chegado. Depois do conserto, o menino corria estrada afora pedalando e gritando de alegria. De repente, um outro grito. Um grito e um gemido. Um fanqueiro idiota e bêbado, a mil por hora, atropelou sua criança. No colo, embarcado na ambulância a caminho do hospital, num último suspiro e com um sorriso nos olhos umedecidos, as palavras finais:

"Que bom que hoje é sábado, né papai!