Paratodos

Décadas antes de Chico de Holanda incluí-lo em seu respeitável repertório, Paratodos era nome de bar em Pitangui. Pertencia a um João Vitorino e se situava nas imediações da fábrica de tecidos, a mais imponente estrutura industrial da cidade, que empregava centenas de operários e cuja produção, dizia-se, ia até para os Estados Unidos da América. Não pela diversidade do produto, que era um só, então de Mao a Lin Pió, a China ainda nem sonhava entrar naquela equação do algodão.

E o Bar Paratodos vivia seus tempos de glória, comparável em requinte e frequência aos bares centrais da cidade. O zum-zum dos teares vizinhos podia-se tolerar e com ele até se acostumar. A Malzbier tava lá pra tudo equacionar.

As mesas eram de tampo redondo de mármore, vendiam-se balas de fabricação caseira, embrulhadas num papel manteiga e nem por isso os tais rebuçados deixavam de ser doces e cobiçados. E até mamãe, vez por outra vindo lá da fábrica só aquele solão do meio da tarde, lá passava e nos vinha, pressurosa e orgulhosa, com um sorvete

acondicionado num copo de alumínio - ou seria alucínio?

A freqüência ao estabelecimento era, contudo, mais compatível com os goleiros de plantão e não duvido que além das anedotas por lá corresse um carteado. Ou são meras ilações da cachola de um menino que entrar lá nem tinha ousado?

O certo é que o genro do Vitorino assumiria a direção do bar e até, adjunta, uma lojinha de tecidos e aviamentos, ao seu lado iria criar, e por Casa Paratodos a iria batizar. Sua esposa, dona Zinha que viria ser minha professora no segundo ano escolar, nas horas vagas iria dela se ocupar. Pena era aquela menina lourinha ali não pintar pra papear...Ou ao menos pra gente a olhar...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/10/2016
Código do texto: T5782161
Classificação de conteúdo: seguro