Juca pela estrada
Mano Zé, o Caxi, mal cabia em si de contentamento. Residente em Beagá, onde fazia um curso de instrumentista na UFMG, havia-se graduado no glorioso Exército Nacional: passara da FAM ao CDI. Por extenso: da singela folha de alistamento militar chegara ao certificado de dispensa de incorporação.
Estava quites e emancipado para ir exercendo sua cidadania. E só na eventualidade de uma guerra é que poderia ser, excpecionalmente chamado a pegar em armas, literalmente.: se se erguesse da justiça a clava forte. E esse risco parecia distante, malgrado a cautela de nossos empedernidos doutrinadores sobre o perigo argentino.
E foi nesse espírito de júbilo que Zé embarcou num ônibus da Santa Maria para passar um fim de semana no torrão natal, Pitangui, orgulhosamente enfiando o CDI plastificado na carteira, ao lado dos cubrinho. E a FAM é que, singela, prescrita ficou sem lugar. Mas embarcou também na mesma condução. Com o Zé ainda sem matutar que fim lhe dar. A prioridade era para namorar e exibir aquele atestado liberatório à amada.
Com o poeirão do trecho Pará de Minas - Pitangui, Zé enojou-se com as paradas sucessivas e, num laivo de rigor cívico, lançou aquele papel, agora amarfanhado - mas poupado de ser rasgado - pela janela, à beira da estrada.
Com o fim de semana regalado, Zé retornou a Beagá para dar seqüência à lide estudantil, seguro de que o lado de Cupido estava sólido, garantido.
E qual não foi sua surpresa, ao receber telefonema pressuroso de mamãe, revelando que sua documentação fora encontrada na estrada e devolvido com toda pompa por um zeloso mateiro das bandas da Capoeira Grande. A um custo, entretanto. De gastos para localizar o endereço do titular daquele papel, bem como para encetar a viagem pra sua devolução, e viagem de retorno. Mais uma propinita para se premiar a correção na prestimosa devolução.
Zé pensou então em rasgar a Constituição. Não soubera do potencial de dor de cabeça que o gesto impensado iria lhe causar. Só faltava uma guerra estourar.