UM DOCE COM HISTÓRIA

Muita gente gosta de doces. A maioria, creio. Quando aprendi a ler, doce foi uma das primeiras palavras de meu livro de leitura. Lembro-me que começava assim: Lili/ Olhem para mim./ Eu me chamo Lili./ Eu comi muito doce./ Vocês gostam de doce?/ Eu gosto tanto de doce!

Naquela época eu já gostava de doces e já conhecia brigadeiro, doce que minha mãe fazia para as festinhas de aniversário das crianças da família. Um “segredo”: naquele tempo só se serviam doces em aniversários de crianças. Para beber, serviam guaraná “Céu Azul” ou “Paraguai”, “quente”, pois as pessoas ainda não tinham geladeira em casa. E era bom.

Vou contar mais um “segredo”, aliás, um segredinho, pois muita gente já o conhece. O brigadeiro, doce que gente pequena e gente grande gosta, tem uma história. O de curioso dessa história é que ele nasceu numa campanha política para presidente da república, cujo slogan era “Vote no Brigadeiro. Ele é bonito, ele é solteiro.” Isso foi há muito anos, muitos anos mesmo, pois eu nem havia nascido. O Brigadeiro, que se chamava Eduardo Gomes, era um homem bonitão, alto, louro, olhos azuis e cara de gente boa, dizem. Tinha o título militar de brigadeiro porque era um oficial graduado da Aeronáutica. Esse homem bonito e solteiro, que usava elegante farda e vivia viajando de avião, acabou caindo na graça das mulheres do país. Entusiasmadas com o candidato, algumas mulheres de São Paulo formaram um grupo com a intenção de organizar festinhas para ajudar na campanha eleitoral do Brigadeiro. Uma senhora do grupo soubera de um doce de leite condensado e chocolate que estavam fazendo no Rio Grande do Sul e resolveu experimentar. Juntou numa panela duas latas de leite condensado, 4 colheres de chocolate em pó e uma colher de manteiga, misturou bem e levou ao fogo. Mexeu a mistura até que ela se soltasse da panela, deixou-a esfriar e depois uma porção de bolinhas, pois muitas pessoas queriam experimentar o doce. Todas aprovaram o sabor delicioso daquela novidade ainda sem nome que logo batizaram de brigadeiro, em homenagem ao candidato Brigadeiro, bonito e solteiro. O doce acabou caindo no gosto de todos, de crianças, de homens e das outras mulheres. Em pouco tempo, de boca em boca, a receita foi espalhada por diversas regiões do país. Dizem que, quando o Brigadeiro chegava em algum lugar para fazer seus comícios, as pessoas corriam para fazer e servir brigadeiros, o qual ficou sendo símbolo de campanha do Brigadeiro. Não contam se todas as pessoas que iam aos comícios ganham pelo menos um brigadeiro, mas sabe-se que, apesar de bonito e solteiro, o Brigadeiro não ganhou a eleição. Pode até ser por causa de que, naquele tempo, poucas mulheres tinham título de eleitor portanto, não podiam votar. Mas, se brigadeiro hoje participasse de uma eleição para escolha do doce mais gostoso de festa de criança e mesmo de gente grande, receberia o voto da maioria das pessoas.

E vocês? Vocês gostam de brigadeiro?