O imposto de renda
Os meses de março e de abril no escritório contábil eram meses de terror intenso, pois a mente dos funcionários estava toda voltada para o imposto de renda pessoa física. Mas esse não era um escritório normal, nessa empresa tudo era alegria e descontração, pelo menos era assim que transcorria os dias e essa época era encarada com um misto de terror e brincadeira pelos mandatários do escritório.
Estávamos na metade do mês de abril e o imposto de renda chegava em sua reta final, quatro pessoas estavam diretamente envolvidas nessa tarefa, a funcionário Sheila a trabalhadora braço direito do patrão Fanuel, estava a mais de um mês trabalhando no imposto de renda e como dizia Fanuel “estava tinindo no serviço”, havia também o funcionário Valdemar um reles trabalhador do setor contábil, que foi pego por dois meses para fazer o tal imposto de renda pessoa física e como dizia “Fanuel” com suas brincadeiras engraçadissimas “era um cabaço no serviço”. Para completar o quarteto do IRPF os patrões Fanuel e Suellen estavam prontos para atender a qualquer dúvida que os dois funcionários tivessem e assim agiam, sem se importar o quão imbecil fosse a tal dúvida.
Os demais funcionários do escritório contábil continuavam suas vidas, trabalhando firmemente, realizando suas funções com grande "esmero". Solange departamento pessoal e Juliana departamento contábil, mantinham sua alegria e carinho para com os outros. No fundo, Oswaldo soltava sua gargalhada com freqüência, a cada piada proferida por Mauricio sobre os patrões, vale ressaltar que a gargalhada dele era absurdamente alta e parecia nao se importar em ser discreta. Cláudio um funcionário comedido na aparência, mas não nos comentários, desferia palavras e brincadeiras contra Juliana, que se esforçava ao máximo para entender sobre o que se tratava o assunto, fato que enchia de alegria a Cláudio, que cada vez mais dificultava os assuntos para causar mais constrangimento a Juliana, mesmo sabendo que ela nao entendia o porque das risadas. O ultimo departamento era interessante, sempre muito visitado por todos os funcionários, ali se amontoavam os três Office boys do escritório, Augusto era o mais velho no escritório e era conhecido pela sua fama de enrolador nato, Cleber era o mais novo, tinha um jeitão que misturava atabalhoamento com malandragem suburbana, o que causava risos abafados e sarcásticos no departamento do fundo, Cleber era namorado de Kaline a funcionária arquivista, uma moça bonita que sempre recebia visitas de Oswlado, claro que sempre na ausência de seu namorado e por ultimo o Office boy Luis um rapaz que tinha uma rivalidade enorme com Cleber e uma amizade intensa com Augusto o enrolador.
Essa era a disposição de todo o escritório no momento, tudo estava como sempre um barril de pólvora pronto para explodir, porém escondido pela alegria e descontração costumeira do estabelecimento. Nesse momento uma ligação é feita no escritório, Juliana atende e passa para Fanuel, que atende com sua alegria marota.
- Alô, oi Roberto, tudo bem? Sim sem problemas! Ate mais!
Fanuel sai atrás de Valdemar aos tropeços e fala para o funcionário que estava compenetrado numa conversa on line, com uma amiga que ele não via há muito tempo – Valdemar faz o imposto de renda, do Roberto Handles, por favor!
- Sem problemas! - diz Valdemar nervosamente ao ser atrapalhado no chat online.
O funcionário Valdemar que volto a lembrar, não passa de um simples "cabaço" palavras de Fanuel, se vê numa situação terrível, pois os papeis jogados em sua mesa não diziam nada, eram um monte de telefones sem nome e tarefas sem titulos e descrições e ele olhava para aquilo como se estivesse em Saxão arcaico. Ele virou sua cabeça nervosamente para os lados com o seguinte pensamento, "não vou perguntar para ninguém, tenho que pelo menos tentar descobrir para que servem" mesmo nao sendo religioso, apertou seus dedos em figa, imaginando que isso seria um sinal de oração.
No fim depois de horas orando para qualquer divindade sem ser atendido, Valdemar desiste e opta por perguntar ao patrão Fanuel, esse uma autoridade no assunto de imposto de renda no escritório. O funcionário contábil caminha ate a sala do patrão, onde Fanuel ensinava a funcionaria Sheila a fazer um imposto de renda, na verdade era mais uma conversa informal do que uma aula propriamente dita.
- Então bebê o que você tem que fazer é não deixar passar a porcentagem das despesas médicas! – disse fanuel carinhoso, como se estivesse falando com sua filha mais nova.
- Mas Fanuel para que eu vou lançar isso se ele não vai restituir tudo isso? – Sheila falava como se fosse PHD em imposto de renda, uma autoridade máxima, com uma enorme bagagem nas costas.
- Calma princesa você tem que ter calma, você sabe que quem perde calma se da mau na vida! – Fanuel jogava mais uma de suas frases originais sobre a vida, quase um escritor de parachoque de caminhão.
Cansado de ouvir a mesma história, Valdemar não pensa duas vezes e interrompe o papo descontraído sobre "imposto de renda".
- Fanuel você pode me ajudar aqui com o imposto de renda do Roberto?
- Sim, qual sua duvida Valdemario – Fanuel solta uma risada sarcástica ao dizer Valdemario como se fosse algo engraçadissimo.
Valdemar sem se importar com a piada e ainda impassível diz – eu não sei lançar nada aqui! – Valdemar da um sorriso timido que parecia dizer, me ensina logo.
- Beleza Valdemar vamos lá!
Os dois caminham até a mesa de Valdemar e Fanuel começa a explicar o que ele deve fazer com tal documento, Valdemar olha para os papeis e para Fanuel e não entende nenhum dos dois, dava até para ver uma gota de suor escorrendo da testa de Valdemar, devido ao nervosismo que ele tentava abafar.
- É isso Valde tem que fazer isso, lança em bens e pronto! – fanuel falava como se Valdemar soubesse.
_ Mas o que é be......
Quando Valdemar foi perguntar o que era bens um grito ensurdecedor é desferido da sala da patroa, sem se importar com quem estava na frente ou o que a pessoa estivesse fazendo.
- FANUEEEEEL!!!!!! – Sheila chamava Fanuel com tanta força e autoridade, que parecia ter descoberto um tumor.
- Calmo ai Valde já volto!
Fanuel sai tropicando e dizendo "o que é minha princesa" e Valdemar fica olhando para a frente sem saber o que fazer e claro sem entender o por que foi deixado ali e o pior nenhum papel ou pessoa pareciam ter poderes para ajuda-lo.
Na sala da patroa Fanuel ensinava Sheila e alternava os ensinamentos de imposto de renda, com dicas sobre sexo, relacionamentos com pessoas e jeito de lidar com clientes, e Sheila muito sábia comentava tudo, com grande imponência e soberba.
Valdemar estava sentado em sua mesa pensando, "poxa era só uma pergunta" Então o funcionário contábil pensou "ora por que não perguntar, de novo?" ele tomou coragem e saiu de sua mesa indo em direção a sala da chefa, passou por Cleber que degustava um café, como se fosse um lorde inglês misturado com um rapper da zona leste de São Paulo, e chegou na sala.
Fanuel falava sobre como o cliente foi agradecido a ele, por algum serviço que ele realizou com a maior qualidade e competência.
- Ai eles ficaram maravilhados com a minha competência e me pagaram um almoço num restaurante caríssimo, mas claro né eu salvei a vida deles com esse serviço! – Fanuel atropelava as palavras e falava com indiferença como se isso não fosse importante.
Por outro lado Sheila ouvia maravilhada, sem perder a pose arrogante e soberba que a acompanhava desde sempre – Claro né, o mínimo que eles tinham que fazer!
Valdemar pensou essa é a hora de interromper e não demorou um segundo. – Então Fanuel me ajuda nisso aqui! – Valdemar entregou em mãos os papeis para Fanuel.
_ O que é isso aqui? – Fanuel olhou para os papeis como se fossem tabela de campeonato de futebol.
Sheila por sua vez não perdeu a pose, baixou a cabeça como se não acreditasse que estava sendo interrompido por um reles funcionário do departamento contábil.
- Mas o que você quer? – perguntou Fanuel impaciente.
- Quero saber aonde lanço isso? – Valdemar pergunta sem jeito, porém com muita força nas palavras, quase gritando.
- A Valdemar não acabei de te falar o que era isso? – Fanuel altera a voz como se isso fosse uma pergunta inadmissível.
_ Mas você não explicou o que era!
_ Ensinar cabaço é fogo, tem que andar sozinho irmão! – Fanuel fala sorrindo demonstrando carinho, e Valdemar sorri com desgosto.
Quando Fanuel se prepara para levantar, Sheila que estava com a cabeça abaixada levanta e grita, com mais arrogância e autoridade na voz do que nunca – Ei Fanuel, mas você não vai sair sem me explicar se eu lanço isso né?
- Ta bom princesa, fica tranqüila, eu to aqui pra ensinar vocês mesmo! – disse Fanuel voltando ao habitual carinho na voz como se falasse com sua filha mais nova – Espera ai Valde já te ensino vai tentando fazer sozinho lá, que já eu chego!
Valdemar fica com um isto de fúria e indignação nos olhos, e só pensava "foi para isso que parei de falar com minha amiga" e sai da sala cabisbaixo. Ao sair escuta Fanuel dizer para Sheila – Ta vendo princesa cai tudo no meu colo, mas vamos lá, tem que dar uma assistência pra minha princesa né? – Fanuel enrola mais a voz, passando um estágio do carinhoso habitual.
O funcionário contábil volta a sua mesa com a cara fechada, passa novamente por Cleber que impressionantemente depois de horas ainda bebia seu café, com seu estilo rapper inglês, e sentou na sua cadeira com cara de poucos amigos.
Osvaldo e Mauricio passam pela sua mesa e percebem a indignação de Valdemar e Mauricio discretamente pergunta – O que foi irmão, algum problema ai?
Valdemar levanta a cabeça e sarcasticamente sorri e diz teatralmente – Cara nao sei o que é pior aqui para entender, o patrão, esses rabiscos que eu fiz, ou - Valdemar aponta para Cleber - Como uma simples xicara de café pode render tanto assim.
Cleber olha nervoso e sai tropeçando, causando a gargalhada de Osvaldo que dava vergonha em todos.
Fim