Eu era feliz e sabia.

Tempo bom, que só a memória é capaz de guardar, quando lembro meus olhos enchem d’água. Parecia que os dias duravam mais. O tempo passava devagar. A vida da gente era muito melhor. Acordávamos cedinho com a barra do dia rosada, com a cantiga dos passarinhos. A gente ia até a cabeceira pegar água pura para encher os potes. Eu e meus irmãos, cada um com uma cabaça. A gente aproveitava a viagem para passar nos pés de mangas. A gente pegava cada manguita gostosa, tínhamos frutas saborosas no café da manhã. Como era muita gente numa caminhada só enchia-se todos os potes. Depois os mais velhos iam fazer outras tarefas. Já os mais novos, como eu, iam brincar no matinho perto de casa.

Não tínhamos preocupação com nada. Tudo era muito tranquilo. As notícias eram poucas. Não tínhamos rádio nem televisão. Para ficarmos informados dos acontecimentos a gente ia para a casa do meu avô no finalzinho da tarde e começo da noite. Meu avô tinha um rádio e sempre ouvia a Voz do Brasil e ficava informado dos acontecimentos do Brasil e do mundo.

Para a molecada era a oportunidade perfeita para brincar, enquanto os adultos conversavam, nós brincávamos de roda sob a luz da Lua, envolta de uma fogueira. As brincadeiras eram muitas: salva a latinha, pega-pega, passa anel, o grilo, o trisca, cai no poço, esconde-esconde e tantas outras.

As crianças se divertiam muito naquele tempo. Hoje está tudo diferente. As crianças perderam a infância, não sabem mais brincar, não sabem mais se divertir. Vivem no mundo virtual, do computador, dos games, dos filmes, da solidão individual, trancados dentro de um quarto e ficam depressivos, deprimidos, isolados da realidade.

Naquele tempo tudo era muito distante e cada viagem era uma descoberta e nunca me esqueci de quando vim pela primeira vez a Pedro II. Saímos cedinho, eu e minha mãe da Chã dos Vianas para a gente pegar o carro na estrada do Capuamo, caminhavam-se quase 10 quilômetros até a parada. Mesmo assim, tudo era muito bom.

Hoje fico pensando: como será o futuro dos meus filhos e dos meus netos com tantas mudanças? Como eles irão absolver tantas informações e o que eles irão guardar de interessante na memória? Talvez essas fossem as mesmas preocupações dos meus pais e dos meus avós. Certamente eles irão guardar as melhores, assim como eu fiz.

Pedro Barros.

Barros Nasimento
Enviado por Barros Nasimento em 24/06/2016
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