A entidade que incomodava
Quis esquecê-lo.
Pensou primeiramente em se livrar da escravidão quinzenal, depois havia também um certo desejo de vingança.
No início se assustou com a reação, depois com a forma, o estilo e por fim se irritou tanto que nem de longe queria vê-lo.
Quis argumentar que era uma inovação. Algo entre o exótico e o contemporâneo, mas o fato é que o resultado não a convencia.
Tentou, controlá-lo, mudá-lo e até escondê-lo. Mas ele, rebelde e cheio de vida, se recusava a cada investida, a cada novo método, a qualquer forma ou ideia de submetê-lo ao que ele não queria.
Era uma luta diária.
Momentos de tensão, raiva, frustração, contrariedade e até inconveniência. Sim, porque o comportamento dele constrangia em casa, no trabalho, na rua, em todos os lugares... Era um horror.
Quando se deu conta ele já a dominava. Era exigente. Precisava de cuidados, capricho, carinho e muita atenção.
Sem contar que custava caro.
Todas as semanas eram incursões à procura de lugares novos, produtos, descobertas mirabolantes, ofertas irrecusáveis.
E ele, ávido, sedento e insaciável, queria sempre mais, intensamente, até que exauria todas as forças de quem por fim, queria apenas domá-lo.
Um dia, passou dos limites... Em um momento em que o vento estava forte e o céu se fechava para a tempestade, tapou os olhos que tentavam enxergar os carros na rua.
Quase um acidente. Fatal.
Depois disso, não teve mais chances. Foi a gota d´água, o ato final, seu último suspiro.
No sábado seguinte ela sentou na cadeira por várias horas e olhou extasiada enquanto ele era lentamente eliminado da sua cabeça.
Saiu loira, lisa, livre e profundamente feliz do cabeleireiro.