Um dos Chaves
Mudar do povoado operário de São Gonçalo do Brumado para Pitangui, sede do município, separados a apenas seis quilômetros de distância, era uma aventura. Que muita gente empreendeu para tentar melhor a vida, principalmente, da filharada que certamente teria melhores chances de estudar e progredir em profissões melhor qualificadas.
E numa dessas migrações, em junho de 1958, fomos nós, papai e mamãe com seis filhos petizes, acompanhados por vovó Inhana, viúva, com seus cinco filhos já bem maduros e solteirões convictos, ou encalhados mesmo. Você decide, leitor, pois já delcidiu-o até o senador.
Transferência contemporânea foi também a do clã Chaves, composto de duas famílias de comerciantes, capitaneadas por Zé e Beco, com suas proles ainda mais extensas.
E não bastasse a impactante chegada àquele burgo de gente orgulhosa de suas raízes, e estrepitosa na sua urbanidade, havia a dura tarefa de se achar alojamento e adaptação na vida econômica local, bem mais dinâmica e diversificada, e a inserção da meninada na escola e nas respectivas vizinhanças.
E o passo seguinte, findo o ginásio da meninada, seria desafio maior, a ida para a capital, BH, tão graciosa e charmosa, atrás de mais estudos e emprego seguro.
E qual não foi a comoção dos recém-chegados, dos que estavam já adaptados, bem como da sociedade local, ao saber, da morte por atropelamento ferroviário na capital mineira do primogênito filho de Beco e dona Mulata, o Jaime Eustáquio, ceifado da do convívio com seus familiares, pares e amigos, ainda adolescente.
Quase sessenta anos decorridos daquela tragédia, a lembrança é viva e doída, sobretudo quando na visita ao Campo da Paz da cidade os olhos se deparam inevitavelmente com aquela primeira lápide à esquerda de quem entra, e logo na reflexão ou prece se concentra. O conforto é saber, ou crer, que perpétuos são de lá os esplendores, para minorar tantas dores.