Três Teresas

Três Teresas nasceram no mesmo dia; Teresa Cristina, Teresa Edviges, e Teresa Maria. Embora com histórias de vida bastante distintas, as três tiveram desfechos muito diferentes uma da outra. E apesar de não terem nenhuma ligação familiar entre as três Teresas, ambas tinham algo muito em comum; o nome Teresa!

Teresa Cristina era filha de uma família de colonos, e antes de completar seus oito anos de idade, aflorou-lhe o desejo de ser uma freira, uma religiosa dedicada às coisas do Senhor.

Era tão tímida Teresa Cristina que, quando chegavam visitas em casa, ela corria para o seu quarto para se esconder. Quando tinha que cumprimentar alguém a pedido dos pais, ela nem mesmo levantava os olhos na direção do rosto das pessoas. Sentia estremecer seu pobre coraçãozinho de tanta timidez.

O que tinha de timidez em Teresa Cristina, também tinha de beleza. Teresa Cristina era muito, mas muito bela mesmo. Tinha uma pele morena cor de jambo. Cabelos encaracolados que despencavam ombro abaixo na altura de sua cintura. Jacobina sua mãe, cuidava muito bem de seus cabelos, e sentia um orgulho enorme de ouvir os elogios de suas amigas quanto à beleza de sua filha. Ela mesma achava aqueles caracóis tão lindos! Cuidava para que os cachos castanhos, escuros e brilhantes de sua filha, ficassem cada vez mais belos.

Certa vez Teresa Cristina disse para sua mãe:

- Mamãe, eu acho lindo como as freiras se vestem. Um dia também vou me vestir assim, como elas. Com aqueles vestidos longos, e aqueles véus na cabeça... Eu quero ser uma freira mamãe! Serei a freira mais feliz deste mundo. Vou trabalhar somente para Deus, auxiliando as pessoas carentes.

Jacobina até que gostava de ver Teresa Cristina com tais desejos, e lhe dava força, lhe incentivava. Imaginava que, servindo ao Senhor, sua filha quando morresse iria direto para o céu. Esse era o pensamento da mãe de Teresa Cristina.

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Já Teresa Edviges, era sabido por todos em sua casa que sua mãe, Miguelita, era uma mulher bastante devota de todos os santos. Na verdade, as paredes de sua casa eram uma verdadeira alegoria, toda decorada com imagem de tudo quanto é santo existente nas esferas do céu.

Nas paredes da casa de Miguelita Tinha Santo Antônio, São Francisco, Santa Teresinha, Santa Clara, São Gerônimo, Santo Agostinho, São Sebastião, São Gonçalo, São Lourenço, Santa Luzia, São José, Santa Edviges, e mais uma dezena deles. Uma comunidade inteira de Santos viviam nas paredes da casa de Miguelita.

A Mãe de Teresa Edviges logo que alcançou sua adolescência, descobriu a comunidade dos santos celestes. Daí em diante, não os deixou mais em paz. Para tudo, Miguelita incomodava os santos.

Quando estudava, todo ano Miguelita fazia promessas para um santo, para que este pudesse ajuda-la a tirar notas boas e não ficar reprovada de ano e voltar a repetir a mesma série.

Depois que cresceu e ficou moça, Miguelita começou a incomodar ainda mais os santos. Desta vez pedia-lhes ajuda para que lhe ajudasse a encontrar um namorado rico para casar-se com ela. Mas o tempo foi passando e nada de encontrar esse marido rico. Quando percebeu que os anos estavam lhe devorando, recorreu aos santos mudando as características do futuro marido; desta vez, eles podiam lhe conceder um marido pobre mesmo, e não precisava ser bonito, desde que a amasse, já estaria bom demais. Ela foi atendida. Casou-se pouco tempo depois de ter alterado o seu pedido. Na hora de agradecer aos santos, já não sabia para qual deles agradecer, porque havia feito o mesmo pedido para tantos santos! Resolveu então fazer um agradecimento coletivo. Orou e acendeu velas para todos os santos. Assim, pensou; todos ficariam felizes e satisfeitos.

Pouco tempo depois de Miguelita ter se casado, esta pensou em ter logo todos os seus filhos, pois pensava que quanto antes eles nascessem melhor para ela, porque ainda estaria jovem e teria muito tempo para dedicar aos cuidados de seu corpo, para não ficar uma mulher desgastada. De corpo feio e desfeito. Ainda teria tempo de recuperar a sua forma física porque estaria ainda uma mulher jovem.

No entanto, muitos anos se passaram após o casamento de Miguelita. Quase dez anos. E ela nada de engravidar! Foi a partir de então que Miguelita se apegou ainda mais com os santos. Era um clamor infindável de Miguelita! Ela peregrinava de Santo em Santo, dia após dia, uma perturbação aquilo! Mas perturbação não para ela, mas para os Santos que tinham que ficar ouvindo suas infindáveis ladainhas petitórias todos os dias, sem folga!

Porém, durante uma estação de verão, Miguelita teve seu pedido atendido. Mas na hora de pagar a promessa do pedido que ela fez; eis aí outro impasse! Como havia feito o pedido para engravidar para uma comunidade inteira de santos, ela não sabia ao certo qual deles lhe havia atendido tal pedido! Pagou a promessa, e agradeceu com alegria a todos os santos novamente, Foi quase um dia inteiro de muita oração e agradecimento. A casa ficou toda iluminada de luzes de velas. E se quando a criança nascesse fosse uma menina, daria a ela os nomes de Santa Teresinha e Santa Edviges. A filha se chamaria; Teresa Edviges!

Nove meses depois, nasceu Teresa Edviges! E por incrível que pareça Teresa Edviges já nasceu muito sapeca. Nossa! Como era vaidosa! Exibida ao extremo.

Por levar o nome de duas Santas, Teresa Edviges não deveria ser assim, tão vaidosa e desejosa das coisas mundanas. As pessoas estranhavam o comportamento de Teresa Edviges, que, mesmo tão novinha, já tinha tanta vaidade.

Esperava-se que Teresa Edviges se dedicasse a uma vida religiosa. Mas as coisas não eram bem assim. Ela dizia que, ao crescer, seria uma atriz famosa! Uma atriz de cinema! Queria ver sua imagem nas telas de cinema do mundo inteiro! Desejava ser seguida por uma multidão de fãs. E por sua cabecinha de vento, nem se passava a hipótese de viver uma vida religiosa.

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Já, Teresa Maria, esta, logo que nasceu fora abandonada pela mãe biológica. Uma família a adotou como filha. Sua mãe adotiva, Marinalva, quando a recebeu nos braços, decidiu chama-la de Teresa Maria. Chamaria Teresa, porque era o nome de sua mãe, aquela que a partir de então seria a avó de Teresa Maria. E teria Maria como segundo nome, por ter sido abandonada pela mãe biológica de uma forma muito insensível, largada numa madrugada fria, e enrolada em flanelas vermelhas sobre a calçada de um edifício. O edifício era o que Marinalva vivia. Teresa Maria só foi vista naquela calçada ao raiar do dia, quando Marinalva saia para ir comprar pães e leite para o café da manhã. Nem mesmo o vigia havia notado aquele pequeno anjo enrolado e dormindo no cantinho da calçada, na entrada do edifício, mas Marinalva logo que pôs seus olhos sobre aquele pacotinho vermelho, correu a ver o que era. Ao chegar perto, a menina se mexeu e deu um pequeno gemido. Marinalva recolheu depressa a pequena, levando-a para dentro de casa e dando logo a ela os primeiros cuidados.

Enquanto a alimentava com uma mamadeira de leite, notou que ela olhava fixamente em seu rosto, com um olhar puro e sereno, e Marinalva não teve dúvidas de que aquela pequena criatura fora amparada naquela madrugada fria, pelos braços quentes de Nossa Senhora, a virgem Maria Santíssima. Decidiu também homenagear Maria, a mãe do menino Jesus, e lhe deu o nome de Teresa Maria.

Teresa Maria era uma menina linda, de olhos grandes e negros. Seus olhos eram tão brilhantes que pareciam duas jabuticabas grandes e maduras. Seus cabelos eram também negros e lisos. Suas bochechas eram rosadas e aveludadas, como dois pêssegos maduros. Ela possuía uma maturidade e uma inteligência incrível, fora do comum. Desde pequena sempre fora muito delicada em suas atitudes. Era muito obediente e sensata em qualquer coisa que fosse fazer. A única fraqueza de Teresa Maria era a sua queda por doces e massas. Sua mãe sofria na tentativa de evitar que a filha engordasse, mas não teve jeito. Teresa Maria foi acumulando peso ao longo dos anos, até ultrapassar todos os limites.

Quando chegou o tempo de ir para a Faculdade, Teresa Maria já com dezenove anos, já estava muito acima de seu peso e não conseguia mais lidar com as críticas da própria família em relação a isso. Juntou a questão da cobrança familiar para que emagrecesse, e o bullyng que ela sofria de seus colegas de aula na Faculdade, e as coisas só foi piorando, dia após dia.

Marinalva sofria ao extremo por ver a filha naquele estado triste de vida, mas ela não conseguia fazer muita coisa por Teresa Maria. Marinalva tinha outros filhos, e controlar a cobrança deles em cima de Teresa Maria era muito difícil. Eles não compreendiam Teresa Maria, não compreendiam que a sua situação não era somente física, mas também psicológica. Não dependia somente de Marinalva, a cura da filha. Parecia que, aquela menininha encontrada na calçada de seu edifício, há dezenove anos, já não queria mais lutar para viver.

Não suportando mais a violência verbal sobre as suas condições físicas, Teresa Maria caiu em profunda depressão. Em menos de dois anos de convivência com a depressão, isolou-se de todos, ao ponto de não desejar nem mais a presença da mãe Marinalva. Não queria ver ninguém, não queria mais ouvir conselhos, pois estes quando alguém lhes trazia aos ouvidos, eram como facas afiadas a lhe ferir a alma. Junto com a depressão vivenciada por ela continuamente, veio também outros problemas de saúde, como problemas cardíacos e pulmonares.

Marinalva, embora a amasse tanto Teresa Maria, ao ponto de desejar dar a própria vida para que sua saúde fosse restaurada, não conseguiu ajuda-la a vencer a luta contra a depressão. Teresa Maria morreu aos vinte e um anos.

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Quanto à Teresa Cristina, aquela que desejava se tornar uma freira, esta mal completou quinze anos, já andava de namoricos pelos pátios da escola. Que coisa hein! Como as coisas mudam! Tudo indicava que ela seria a freira mais fiel de sua comunidade. Mas não, as coisas desandaram e tomaram um rumo tão diferente que, Teresa Cristina só dava trabalho para seus pais.

Toda semana chegavam reclamações vindas da escola de Teresa Cristina. E toda semana, seu pai botava para correr de sua porta alguns candidatos a namorado de Teresa Cristina. Era uma coisa infernal aquela situação.

Teresa Cristina ficou tão bela que deixava os rapazes loucos por ela. Os pais de Teresa Cristina acharam por bem casá-la o mais depressa possível, antes que algo pior acontecesse. Assim, quando surgiu um candidato aplausível tanto para a família, quanto para Teresa Cristina, logo seus pais cuidaram de fechar os acordos necessários para o casamento. Teresa Cristina casou-se aos dezoito anos com um jovem soldado, e teve cinco filhos muito belos. Ela formou uma linda família e teve uma vida, de certa forma, feliz.

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Mas, quanto à Teresa Edviges, aquela que levava o nome de duas santas, às quais sua mãe Miguelita era devota, aquela que desejava ser uma atriz famosa, tomou outros caminhos muito diferentes. As coisas não saíram bem do jeito que ela sonhava.

Antes mesmo de completar dez anos, os pais de Teresa Edviges se separaram. E mesmo sendo filha única, sua mãe a colocou para trabalhar como “Babá” em casas de famílias. Daí em diante, ela passou a viver e trabalhar em casas de famílias. Inicialmente começou trabalhando e morando nessas casas de família em troca de estudos, em troca de roupas e de calçados. Depois, que cresceu mais, passou a ganhar um salário por seu trabalho.

Teresa Edviges foi vivendo nessa vida, entre os sonhos de ser atriz, e uma vida muito dura de trabalho, cheia de batalhas incontáveis.

Tempos depois deixou a função de Babá para trabalhar como diarista, na limpeza das residências de família. Dizia ela que ganhava mais, e ela mesma controlava os dias que podia trabalhar.

Certa vez, já com dezessete anos completos, e ainda trabalhando como diarista, Teresa Edviges foi a um passeio juntamente com um grupo turístico. O grupo visitaria algumas cidades, e entre elas, uma cidade onde também iriam conhecer um Santuário de Santa Edviges.

Tão logo Teresa Edviges adentrou o Santuário, seu coração disparou e começou a bater muito forte. Ela sentiu uma emoção muito grande. Sem compreender o que estava acontecendo, ela começou a chorar. Não era um choro de tristeza, mas um choro de alegria. Era como se ela tivesse acabado de encontrar algo que procurava ha uma vida inteira! Parecia que naquele momento, naquele lugar, ela acabava de conhecer a sua verdadeira vocação. Era isso! Teresa Edviges teve certeza plena em seu coração que nascera para ser uma religiosa, e que seu nome, não lhe havia sido dado por acaso. Era seu destino ser uma religiosa. Não desejava mais ser uma atriz de cinema. Não deseja mais ser nenhuma outra coisa no mundo. Só queria ser uma servidora de Cristo na Terra. Queria ser uma freira. Nasceu para ser uma religiosa, para viver uma vida dedicada às coisas do Senhor.

A partir daquele dia, Teresa Edviges entrou para a vida religiosa, e nunca mais saiu dela. Suas ações levaram Jesus a incontáveis pessoas. Teresa Edviges viveu toda a sua vida como uma freira. Foi fiel a todos os ensinamentos de Jesus, até o fim de seus dias. Teresa Edviges morreu com noventa anos de idade, depois de já ter deixado um legado de caridade por onde passou.

E assim se termina esta história. A história das três Teresas! Teresa Cristina, Teresa Edviges, e Teresa Maria.