Contos do imprevisto e do absurdo

Contos do imprevisto e do absurdo

Havia um certo homem numa povoação, que pensava ser muito estudioso, que depois de viver ali uns longos anos, se afligia com a maneira, como os seus conterrâneos enfrentavam a vida. Eles eram pessoas, simples mas não tinha gosto na vida, pareciam apáticos e alheios a tudo ao seu redor, ele bem brigava, para que eles criassem iniciativas e lutassem, para arranjarem maneira de vencer a vida e saber tirar partido da mesma, mas era tudo em vão, sempre que se abeiravam dele, a pedir um conselho ou uma opinião, ele com grande dose de paciência explicava aconselhava, ensinava, mas aquelas cabeças eram duras, era preciso ele explicar muitas vezes, por vezes até ele executava coisas, para eles compreenderem melhor, mas nada dava resultado. Pouco diferiam dos animais, era trabalharem, comer e beber, fazerem filharada, não iam além disso. Ele bem os aconselhava para mandarem os filhos para a escola, mas alguns mandavam mas com relutância, pois sempre se queixavam, que faziam falta para ajudar nos trabalhos, para ganharem a vida. Assim este homem um dia aparelhou a sua mula no carro, onde meteu algumas ferramentas, um galo de estimação, como não tinha ninguém que tratasse do galito, ele resolveu levar o bicho com ele, levou também um sino já antigo, uma escada e finalmente uma bengala. Despediu-se dos seus conterrâneos, que ficaram com a lágrima no olho pela falta que lhes fazia, e já me estava a esquecer, também levou o seu fiel amigo, que era um bom rafeiro, muito bom como guarda

Numa madrugada partiram no largo a da povoação lá ficaram todos a acenar, depois das despedidas a carripana partiu, ao passo da ruça, que o dono não tinha pressa, chagariam quando chegassem, porque o dia ainda era uma criança.

Era já quase noite, quando chegaram a um povoado pequeno, onde quase não se via vivalma, ele prendeu a ruça a uma árvore deu-lhe a alcofa da ração para ela ir moendo a palhada, pois durante aquele dia pouco pararam para comer, chamou o saltão, nome dado do cão de guarda, indo em busca daquela gente. Ao chegar ao largo principal viu um magote de gente a lamentar-se, só se ouvia dizer: E agora como vai ser, logo o berço da criança estar mesmo por baixo onde o machado está pendurado, e se o machado cai, mata a criança, mas que coisa é uma pena, coitadinho do menino, ainda tão novo e já com uma sina tão triste.

Então o homem viajante foi indagar a aflição desesperada daquela gente. Depois de saudar toda aquela gente, lá lhe foram dando a explicação que um menino estava num berço e por cima estava um machado, que se caísse matava-o e ninguém tinha uma ideia como resolver o problema! O nosso viajante ficou mesmo indignado, porque era tão simples resolver, mas aquela gente ainda era mais atrasada do que a da sua terra. Olhem meus caros isto é tão simples, que eu até estou pasmado, como não houve nenhuma alma de Deus que não resolvesse isto. Várias vozes, todos à uma perguntaram: Então como é que vossemecê vai atão resolver isso? Então ele foi, pegou no berço da criança, mudou de lugar, vejam como é simples! Mas logo as mulheres saíram a dizer atão o senhor nã deve saber, mas p lugar do berço é ali, sempre foi, e nã pode ser noutro lado. O viajante já cheio, disse, vão lá a minha carroça da besta, tragam uma escada que está amarada, assim que a escada chegou ele encostou a escada e retirou o machado e foi pendurar num cabida que estava perto da porta da entrada, Aquela gente ficou eufórica e dizia olha como a gente nã se alembrou disto, foi preciso este homem aqui chagar para dare esta ideia. Ele há cada uma, sim senhor é assim mêmo.

Depois de pernoitar naquela terra de gente tão atrasada aparelhou a Ruça e seguiu viagem para outra terra.

Contos do imprevisto e do absurdo 2ª parte

Depois de andarem uns dias, aparando ora num campo, ora em casas isoladas, onde pediam para pernoitar, ele com a sua ruça, mais o tal galinho de crista vermelha, até que chegaram num povoado, assim maior que uma aldeia, por ali andaram a ver como era aquela gente, por ora até parecia gente boa, então o nosso amigo, resolveu pedir para ficarem num palheiro, onde podia dar uma cama de boa palha à sua ruça, uma boa ração, e água, claro, os animais também têm sede, por isso precisam de água, quanto ao galito um punhado de milho, que ele tratou de engolir rápido não deixando nenhum perdido, também se satisfez com água fresca. Como estava uma linda noite de luar era lia cheia, que parecia as bochechas de uma donzela que por ali passou. O nosso amigo viajante, ainda ficou por ali a apanhar o ar fresco, daquela noite encantadora, depois começou a bocejar e acabou por se deitar também, por a ruça já se tinha deitado, o galito já tinha a cabeça debaixo da asa, assim dormiram que nem uns anjos. Mas de madrugada muito cedo, ainda fazia escuro, começaram a ouvir uma barulheira infernal, gritos que eram ordens a ser dadas, começaram a aparecer as primeiras carroças, com os candeeiros acesos gente a falar alto, despertaram o nosso amigo, que foi indagar o que se passava, disseram-lhe então que iam buscar o dia, depois do sol nascer, voltavam todos novamente, para a povoação trazendo consigo o dia, que ficavam com eles até que a noite o escondesse. O nosso amigo viajante foi convidado, e disseram-lhe para subir para uma das carroças, pois não precisava de engatar a sua mula, porque eles não iam demorar muito. Foi o amigo viajante, com aquela gentalha toda, mas pensando que não passava de um partida ou de uma paródia, mas ficou a pensar se aquilo era a sério, até faziam inveja ao outro povoado, que ele teve que afastar o berço do menino por causa do machado estar pendurado por cima do berço. Enfim depois de umas horas a andarem de carroça, a madrugada raiou, o sol começo a despontar, eles muito alegres, cantaram, dançaram deram as boas vindas, ao astro rei, muitos abraços comeram beberam, alegremente regressaram ao povoado, por terem ido buscar o dia. Mas o nosso amigo viajante ficou a cismar em tudo aquilo, então aqueles maduros, perdiam horas, que podiam empregar nos trabalhos da lavoura, ou na apanha da fruta para irem buscar uma coisas que aparece diariamente sem que seja preciso irem buscar. Mas ele pelo caminho de regresso ia já a magicar uma coisa, que ia poupar tempo, aquela boa gente, mas tão atrasada.

Quando chegou ao povoado, foi ter com o maioral daquela gente toda e explicou-lhe, que tinha ali um animal, que fazia com que o dia viesse, sem ser preciso irem-no buscar, e nunca falhava. Ele ficaram assim na dúvida, mas ele conseguiu, convence-los depois da noite estar quase a terminar, ele colocou a galito num sítio alto dentro duma cesta grande tapando-o com uma rede, dizendo para aquela gente esperar, que depois fariam então a festa do costume, explicava ele, quando ouvirem o bichinho bater as asas depois canta o seu cocórococó começa a aparecer o dia, pois é ele que sabe que o dia vem a seguir, portanto tenham atenção porque depois o sol começa a encher tudo de luz, mas nos dias que o sol fique escondido por detrás da nuvens ou do nevoeiro ele canta sempre, mesmo que o sol não se mostre mas o dia começa. Passado uns momentos, ou viu-se o bater das asas do galito, e um cantar lindo, pouco a pouco, o céu encheu-se de luz e as aves começaram a aparecer com seus gorjeios, as abelhas zumbindo, procurando as flores mais doces. Toda esta vida, veio dar razão ao nosso amigo, que passou a ser alvo das atenções, daquela humilde gente, que o encheram de prendas, ainda que ele não queria aceitar!

Chegou o dia da partida, com muita pena de toda aquela gente, mas o galinho ficou ali e ele explicou como devia ser tratado, nunca mais aquela gente precisou de se levantar tão cedo para irem buscar o dia. Para que tudo ficasse nos conformes, ele prometeu arranjar umas galinhas, para companhia do galo e explicou mais tarde, como poderiam arranjar outro, ou outros galos, para quando aquele morresse de velhice, assim acabou mais um dos contos do imprevisto e do absurdo.

Vamos contar o 3º conto do imprevisto e do absurdo

Depois de sair da terra, onde deixou o galinho que ele gostava tanto, deixou-se ir a passo da mula Ruça, deixando-a ir no seu passo pachorrento, andando uns dias até que foi parar noutra povoação, ao chegar, só ouvia muitos gemidos e ais, ai a minha perna, ai o meu braço, ai a minha cabeça. Ele não via vivalma, só via um montão de tábuas mal arrumadas, mais parecendo que um furacão tinha passado por ali, mas era daquele amontoado de madeiras, que ele escutava os ais, o meu braço, a minha perna, a minha cabeça, então foi ver de perto o que era, era nem mais nem menos, segundo ele apurou, ao conseguir escutar os queixumes de algumas pessoas, foi o seguinte: Estavam ali naquele estrado, a comemorar uma festa qualquer da povoação, que se encheu com quase toda a gentinha lá da terra, mas alguns forasteiros, o estrado ficou a abarrotar de gente, de repente ouviu-se assim como um estalo, veio tudo abaixo, eram centenas de pessoas, novos velhos homens mulheres e crianças, vieram de roldão naquela queda. Foi mesmo uma desgraça, o nosso amigo ficou intrincado, porque as pessoas estavam em monte por cima umas das outras e gemer ai minha perna ai o meu pé a minha cabeça, mas não viu ninguém, a tentar sair daquela confusão de gente amontoada, aí ele perguntou, então vocês estão aí a queixarem-se tanto, mas não vejo ninguém tentar sair, para prestar ajuda aos que estão mais feridos?

Parece estranho, mas alguém respondeu; já apareceram por aí uns, quantos, que não estavam aqui com a gente na festa, quiseram puxar, mas não foram autorizados, foram embora, porque os responsáveis avisaram, que era muito perigoso, tentar retirar as pessoas, das posições em que se encontram, porque ninguém depois onde está os seus braços, ou as suas pernas, e assim aqui nos encontramos nesta desgraça, acabamos por morrer todos com fome e falta de tratamento, com medo de não saber quais são os nossos membros. O nosso amigo viajante, pensou lá com os seus botões; mas que gente tão atrasada, e mentes doentias, mas eu vou ensinar-lhes a conhecerem quais são os seus membros e a levantarem-se rapidamente. Falo para um, que parecia a ser responsável por aquela gente, dizendo-lhe; olhe bom homem, ao que me parece, aproxima-se desta povoação uma tempestade, com ventanias que são capazes de pegar num homem atirando ao ar de tal maneira que nem se sabe ondo irá parar, quando o encontrarem já está morto e feito uma pedra de gelo. O homenzinho ficou de tal forma assustado, que pediu por tudo, para ele ver se podia dar um jeito naquela desgraça. Então ele lembrou-se da bengala que tinha no carro da Ruça, e disse ao homenzinho: Meu caro amigo eu vou resolver isto num abrir e fechar de olhos, mas ainda vão ter que sofrer um bocado! Está certo? O homem respondeu; estamos prontos e eu já vou passar recado, a toda esta gente, não demore se faz favor. Passados uns minutos ele vai para aquele amontoado de gente, e começou a distribuir bengaladas e eles ai o meu braço está a doer, se está a doer sabe que é seu, levante-se e ponha-se a andar, saia daqui para fora, ao que se queixava da perna, ou ao que se queixava da cabeça a ordem era a mesma, passados minutos só poupou, os que tinha alguma perna ou braço partido, esses ficaram ali mas ele depois recomendou para os levarem ao hospital nos carros de tração animal, pois ali ambulâncias não havia, esse luxo não tinha chegado aqueles sítios, Aquele pessoal ficou muito agradecido pela lembrança dele, também pela maneira como ordenou aos que estavam mesmo mal. Para serem tratos no hospital. Fizeram-lhe umas festas, queriam-lhe fazer ofertas, mas nada aceitou. Ele é que se lembrou de lhe oferecer o sino velho, para eles colocarem num lugar alto, e ensinou-os a tocarem o sino, para quando houvesse um desastre ou fogo nos campos ou nas casas da povoação, para todos ouvirem, e saberem que quando o sino tocasse todos deviam largar os seus afazeres par acudirem e ajudarem, no que fosse preciso.

O Nosso amigo viajante, resolveu regressar ao seu povoado, porque os povoados que visitou, ainda eram mais atrasos do que os seus conterrâneos, assim ainda o ouvi durante um tempo que o acompanhei, toca r a sua Ruça Anda Ruça se andares um bocado a trote tens ração dobrado.

Vai daqui o meu abraço aos leitores, que tiveram a pachorra de ler estes contos.

José Rodrigues (Galeano) 15 de Outubro de 2015

Galeano
Enviado por Galeano em 15/10/2015
Código do texto: T5415754
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.