Cajueiro, cajueiro
O cajueiro, pela mão de mamãe, chegou muda pequenina, acho até que numa dessas latas de gordura de coco Tahi, ou Dunorte. Plantado no fundo do quintal, foi crescendo, crescendo - feito a fama do Vicente Celestino do Ébrio - até virar, em poucos anos, a mais alta e sobranceira árvore do terreiro. Com aqueles galhos bem horizontais, folhas graúdas, parecia fadado a produzir frutos celestiais.
Nossa dúvida era se iriam sair cajuzinhos amarelos, os mais comuns, ou vermelhos, já mais raros, mas quão caros - e bem carnudos, feito os lábios uma Monroe.
E o florescer do cajueiro embelezou o quintal, indicando ser o sinal para algo colossal, mas qual o quê, o tempo passou, tanta flor que se abriu e murchou e nada das cobiçadas frutinhas da cabeça pra baixo.
Veio o ano seguinte, como vieram os outros e nada além daquele estágio florido, enquanto cajueiros de outros quintais andavam
carregadinhos, seus danadinhos. Os do quintal de Dona Ginica, moradora em nosso bairro, então eram de fazer um ali babar - e os quarenta moleques, prontos a em ação entrar... Tanto pelo gosto de trepar quando pelo de chupar...
Mas o nosso cajueiro...teria sido praga, seria estéril, ou só macho, acho? Um dia, sem mais nove horas, como pouco se empenha virou lenha, de ardentes toras.