O Instituto Universal Brasileiro

Não havia revista que se prezasse que não trouxesse a publicidade do Instituto Universal Brasileiro, o IUB. Com o mínimo de investimento em tempo e dinheiro, você imaginava, podia ter ali também o seu retratinho e sua mensagem aos que ainda não haviam se beneficiado das bem-aventuranças daquela instituição. Além da profissão, que vinha acoplada à independência financeira, claro.

Relojoeiros, consertadores de rádio, costureiras, só para lembrar os mais comuns. E tudo o que bastava para começar, era ler bem o anúncio, preencher o formulário anexo e mandar. Pra São Paulo. Onde mais podia haver tão imponente instituto? E o que era melhor, é que não era necessário mandar dinheiro "agora".

E com a certeza de um cronômetro, semanas depois, duas ou três, lá vinha a primeira remessa de instruções e de parte do equipamento, que o candidato a felizardo ia montando.

Na minha cidadezinha do interior conheci pelo dois contemporâneos, rapazinhos, que aceitaram o repto. Repto, na verdade era mais palavra de outra instituição, a Joe Weider, aquela que lhe prometia os músculos de um Schwarzenegger (ist dass korrekt, Herr Antunes, bitte!)antes ainda do Arnie pensar em deixar as doces montanhas do

Tirol na Áustria, pra ver exibir sua montanha de músculos e se tornar o darling de Hollywood.

Assim, repto é bom e mantenhamo-lo na oferta do IUB e na transformação da vida de meus dois contemporâneos, o Armando e o Marcim. Armando fez o curso de detetive. Na falta de crimes de complexa resolução na cidade, mudou-se, à procura de mais pesados ares. Como bom profissional, não deixou pista.

Já o Marcim, que atendia por muitos apelidos: Salzim, Pressão, Boca, investiu no rádio. E fazia questão de mostrar pros colegas e amigos o resultado de seus esforços: passou a emitir em ondas longas, ou médias, uma verbosidade antes ignorada. E algumas pessoas, quase uma dúzia, passaram a ouvir suas difusões, apesar do medo

que reinava na época de que os milicos podiam a qualquer hora complicar-lhe a vida.

Mas o que resolveu tudo, foi aparecer um emprego e uma namorada por quem o radialista se apaixonou logo e segurou as ondas entre as quatro paredes. Quando deu fé dos pendores do rádio, já tava tudo transistorizado.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/08/2015
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